sábado, 23 de fevereiro de 2013

Poliana, a rainha de torcida


Tudo voltara a normalidade no antigo castelo real. Os mesmos bobos da corte, os mesmos pajens e, enfim, a mesma rainha. A resplandecente Poliana trouxera seu brilho de volta ao reino. O período de pasmaceira e monotonia chegara ao fim. A jovem e destemida rainha, revigorada pelos dias de afastamento forçado, voltara com ainda mais ânimo e ímpeto do que antes, obrigando sua vasta corte a arregaçar as mangas e colocar mãos a obra. No amplo salão real o seleto grupo de aduladores de sua majestade já demonstrava sinais de estafa.
- Credo quanta tralheira. Eu não pensei que tivéssemos que carregar tantas coisas nessa mudança da Poliana da torre de volta ao castelo. – reclama um companheiro
- Nem me fale. Eu fiz três viagens só trazendo as necessaires dela. Onde será que ela enfia tanto creme e perfume? – se pergunta um dos bobos, acalorado.
- E os bombons de amarula, então?! Lotaram a minha Kombi todinha! – informa impressionado um líder do SindiPelego.
- O pior foi preparar a redoma da rainha do jeitinho que ela aprecia. Vocês sabem como sua alteza é temperamental e sujeita a fricotes. Nós passamos o final de semana todo deixando tudo como ela gosta. Cor de rosa e perfumado. O vidro fume bem nebuloso, com a melhor e mais distorcida visão do reino possível. Assim ela não precisa ser incomodada com o que ocorre lá fora, em Mundo Real. Deu um trabalhão danado. – queixa-se um dos pajens.
- Que trabalheira infernal. Tudo por causa daquela miserável da Justiça. Se ela não tivesse se metido onde não devia, nada disso teria sido necessário. Poliana nunca teria deixado o castelo e nós não perderíamos tanto tempo. E dinheiro. – reclama outro bobo.
- Também pudera. O que se podia esperar daquela velha cega, surda, muda e além de tudo esclerosada! Não sabe nem mais o que diz a coitada. Já é mais do que hora de alguém aposentar Justiça. O nosso mundo seria muito melhor sem ela. – afirma outro indignado companheiro.
- É a pura verdade. Que falta faz um paredão por aqui! Com Justiça e Imprensa Livre perfiladas dava para fazer uma faxina. Aí sim, esse reino ia pra frente. – concorda o outro sonhador.
- Justiça é uma mentecapta, isso sim. Louca e histérica. – exalta-se outro.
- Como vocês ousam dizer um absurdo desses, seus ignorantes! – grita Poliana adentrando no recinto. – Eu nunca mais quero ouvir nenhum de você dirigindo qualquer palavra desrespeitosa para Justiça, ouviram bem!? – ordena com seu conhecido timbre esganiçado pelo destempero. – Onde já se viu tamanho absurdo. Falar dessa forma de uma senhora tão distinta e coerente!
- Você está brincando, né Poliana? – questiona um dos pajens um tanto assombrado.
- Eu estou falando seriíssimo. Eu sou uma monarca aclamada pelo povo e não vou permitir que ninguém em meu reino ouse difamar Justiça.
- Mas Poliana, nós fizemos passeata, carreata e bandeiraço contra Justiça. Você proferiu dezenas de discursos reclamando da bruaca! Você endoidou de vez?
- Eu fiz? – pergunta Poliana com ar pensativo – Pois não me lembro mais. Tudo que fiz, fiz movida pela paixão. Coisa de momento. Vocês sabem como sou emotiva. – esclarece.
- Você não pode ter esquecido toda a humilhação que Justiça lhe fez passar rainha. Toda a perseguição desmedida. Não só contra você, mas esse complô dela contra os membros mais sérios e notórios de nosso clã. – indigna-se uma velha estrela.
- Foi só um pequeno lapso de Justiça. Coisas de velha caduca. Mas ela já se redimiu. Isso não vai se repetir. Justiça está do nosso lado agora. – garante Poliana
- Será? – duvida um dos presentes
- Claro que sim. Nossos articuladores na sede do poder central já garantiram. Justiça joga no nosso time. – afirma sua majestade muito segura de si.
- Não sei não alteza. Vai que ela muda de ideia novamente.
- Não vai mudar. O jogo agora é nosso. Oposição que fique emburrada assistindo nosso time jogar. Pra ela que gosta tanto de ataque vai se surpreender com nossa retranca. – gargalha Poliana.
- Nós não vamos ganhar no tapetão?
- Não. Na enrolação. Basta um bom zagueiro que segure firme a bola para arrastar o jogo e levar a galera à exaustão. Se precisar nós temos tarimba e manha de argentino. Caímos no campo, simulamos falta, imploramos impedimento. Nesse jogo com Justiça vale tudo.
- Vale até dedo no olho? – pergunta um companheiro, malandro.
- Isso não adianta nada, queridinho. A Justiça já é cega.
- Mas será que ela é burra? – pergunta outro ainda preocupado.
- Isso nós estamos pagando pra ver. E veremos. Avante torcedores! Vamos logo seus molóides. Vistam essas camisas de nossa torcida organizada e vamos vencer esse joguinho. – ordena a imperatriz Poliana, vestindo seu novíssimo traje de animadora de torcida. Na camiseta baby look , um enorme coração vermelho salpicado de estrelas e a frase “Eu amo Justiça!”

Um comentário:

  1. SABE QUE SE O SCHIMIDT ENTRAR ERECHIM IRÁ TER OUTRO PREFEITO CASSADO. MEU DEUS VOU SER A TERCEIRA VIA NA PRÓXIMA ELEIÇÃO,POIS GARANTO QUE MINHA FICHA É BRILHANTE MAIS QUE LIMPA.

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