sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

De frente com Golesminha


- Por toda a propina que nos sustenta! Pelas centenas de carguinhos que nos mantém! Por todos os rolos e enrolos com Justiça que ainda conseguimos acobertar! – grita Poliana com o rosto ruborizado e esganiçando o tom de voz - Nunca mais deixem o Golesminha dar entrevista ao vivo na televisão! – berra ainda mais transloucada, nos seus conhecidos ataques de destempero.
- Relaxa Poliana. Você anda muito estressadinha ultimamente. Toma aqui uma caixa de bombons de amarula. – oferece um membro do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago), sem dar nenhuma importância a TPM da antiga monarca. – Eu particularmente prefiro minha caipira. – acrescenta, sorvendo um longo gole da sua bebida.
- Caipira! Caipira parecia o Golesminha na TV! O que foi aquilo afinal? Vocês se venderam para Oposição?
- Eu achei que ele foi bem. – retruca o outro, sempre fiel a cartilha de seu clã.
- Claro que achou. A entrevista foi depois do almoço. Você já devia ter tomado cinco taças de vinho a essas alturas! O homem foi uma desgraça! Como foi que vocês transportaram ele até o estúdio? Dentro duma britadeira? – pergunta Poliana.
- Claro que não, né Poliana. De carro. Em comitiva, cercado de militantes e bandeiras, como manda a tradição.
- Então devem ter andado por todo o centro do reino. Trepidando em todas aquelas ruas esburacadas. Só pode ter sido isso! O homem não parava de se chacoalhar na frente da câmera! Parecia aquelas birutas de posto de gasolina. – relata Poliana, imitando os movimentos desordenados de seu companheiro Golesminha.
- Credo Poliana. Nem foi assim. – defende um dos amigos tentando segurar o riso.  – Mas pensando nisso, nós podíamos mandar fazer umas birutas com a forma do Golesminha. Ia ficar engraçadinho na campanha.
- Não tem graça nenhuma! Nós temos de encagaçar Oposição, não matá-la de rir! – irrita-se ainda mais a monarca deposta – E o que vocês passaram na boca dele?
- Nada, ora bolas. O pessoal da maquiagem usou brilho labial e um pouco de pó, eu acho, misturado com óleo de peroba, é claro. A maquiagem básica, a mesma que nosso adversário também usou.
- Mas devem ter feito alguma coisa com a língua do homem. Ele ficava se lambendo todo, que nem um boi Zebu. Aquela língua pra cima e pra baixo. Um horror!
- Tava mais pra lagartixa. Uma lagartixa branca. – acrescenta outro militante, tirando sarro.
- E vocês embriagaram o coitado?! Ele já não diz coisa com coisa sóbrio, que dirá bêbado. Vocês deram cachaça pra ele antes da entrevista, seus inúteis incompetentes! - acusa Poliana.
- Claro que não! Você acha que nós somos burros?! Com toda essa Balada Segura pelo reino, ele era o único não tinha tomado nada no almoço, então foi dirigindo.
- Alguma coisa vocês devem ter dado pra ele tomar. O homem tava enrolando a língua no fim da entrevista. Parecia um pau d’agua como vocês do MSTT!
- Ah! Deve ter sido o tiner. – lembra-se um companheiro, despreocupado.
- Tiner! Vocês deram tiner para ele cheirar! – grita Poliana e se atira desesperada no divã – Chaparam o plasta do Golesminha! Justo quando ele ia aparecer num programa de grande audiência da TV. Ao vivo para todo o reino. Onde é que vocês estão com a cabeça, seus estúpidos!
- Nada disso, Poliana. Nós usamos tiner na boca dele. Era preciso para ele conseguir falar, lembra?
- Como? – questiona Poliana, devorando nervosamente seus adorados bombons de amarula.
- Nós tínhamos colado a boca do companheiro Golesminha com Super Bonder para ele parar de pregar a palavra de Marx e não espantar os eleitores. Ele só ficava andando nas ruas com roupa de padre e ao lado dele um carro de som enorme com a sua voz Poliana. Está lembrada agora?
- Claro que sim. Vocês estão tentando fazer com que o Golesminha pareça um clone meu. Como se fosse possível um absurdo desses! Eu tão arrumadinha e altiva e ele todo desarranjado. Uma infâmia, isso sim. – desdenha Poliana – Pegaram tudo que era meu e estão colando no Golesminha. Copiaram todas as minhas propostas! Todos os meus discursos! Os mesmos jargões! As mesmíssimas frases feitas e slogans. Até os escorregões nos erres são idênticos!
- Claro Poliana. O que você esperava? Se colou uma vez, pode ser que cole de novo! E depois, ia ser difícil inventar tanta lorota nova em tão pouco tempo.
- Mas vocês estão usando até as minhas fotos! Isso é um ultraje a minha imagem de monarca perseguida pela desumana e intransigente Justiça.
- É essa a ideia Poliana. Como o Golesminha é um mosca-morta que ninguém conhece e quem conhece quer manter distância, nós usamos a sua carismática e popular figura de rainha para enrolar o povão. Como a maioria do povo nem está sabendo direito o que está acontecendo no reino, vão pensar que tem que votar novamente em Poliana. Dessa vez para Garota Verão. Pura estratégia de marketing. 
- Eu sempre quis ser Garota Verão. – acrescenta Poliana sonhadora, mas retornando ao foco da discussão com rapidez. – Chega de conversa fiada. Vocês ainda não esclareceram o negócio do tiner e da chapação do Golesma!
- Antes da entrevista tivemos de descolar a boca dele. E a tal da super cola não sai sem muito tiner. Por isso que ele estava com a língua meio pastosa. Acho que exageramos na dose.
- Vamos ter de repensar essa estratégia. Não podemos correr o risco de outro fiasco desses ao vivo. – reflete Poliana.
- Vamos parar de colar a boca dele e correr o risco de espantar nossa chance de retomar o trono?!
- Claro que não. Não vamos mais deixar ele dar entrevistas, é lógico. Nada mais de TV para o Golesminha em Mundo Real. Onde já se viu esse negócio de entrevista ao vivo, sem edição, montagem ou photoshop. Quem foi o idiota que inventou essa baboseira de confronto de ideias, opiniões e debates? Coisa de gente reacionária e desocupada. Só pode ter sido invenção de Oposição. – afirma Poliana entediada.
- Coisa de Imprensa Livre, é claro! Deve estar armando alguma arapuca, a arruaceira.
- Com certeza algum golpe midiático. Mas não podemos nos deixar arrastar para o temerário e perigoso campo das ideias. Precisamos nos manter no campo das ilusões de ética. Esse é o nosso campinho. Nele somos imbatíveis. – declara a antiga monarca erguendo-se e parando em frente ao espelho da sala - Então está decidido. Nada mais de entrevistas. Muito menos debates. Ainda mais mediados por essa Imprensa Livre golpista. Entrevista só em canal fechado que o povão não assiste mesmo, e se for na hora da novela. Ou para veículos democráticos e descomprometidos, como a Carta Capital.
- Então está resolvido. – concordam todos, voltando para suas caipirinhas
Enquanto isso, Poliana demorava-se em frente ao grande espelho. Mirava-se de todos os ângulos possíveis fazendo caras e bocas. Decorridos vários minutos vira-se decida para o seleto grupo no recinto e pergunta com um sorrisinho coquete.
- Será que essa decisão arbitrária de Justiça de me manter oito anos em isolamento, sem disputar o trono ou ganhar um carguinho público, também me impede de disputar o Garota Verão?
- Ah, não! – suspiram seus companheiros
- Ela exagerou de novo nos bombons de amarula! Alguém aí, faz um café bem forte, antes que ela nos faça pagar outro mico.

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