Tudo voltara a normalidade no antigo castelo real. Os mesmos
bobos da corte, os mesmos pajens e, enfim, a mesma rainha. A resplandecente
Poliana trouxera seu brilho de volta ao reino. O período de pasmaceira e
monotonia chegara ao fim. A jovem e destemida rainha, revigorada pelos dias de
afastamento forçado, voltara com ainda mais ânimo e ímpeto do que antes,
obrigando sua vasta corte a arregaçar as mangas e colocar mãos a obra. No amplo
salão real o seleto grupo de aduladores de sua majestade já demonstrava sinais
de estafa.
- Credo quanta tralheira. Eu não pensei que tivéssemos que
carregar tantas coisas nessa mudança da Poliana da torre de volta ao castelo. –
reclama um companheiro
- Nem me fale. Eu fiz três viagens só trazendo as necessaires dela. Onde será que ela
enfia tanto creme e perfume? – se pergunta um dos bobos, acalorado.
- E os bombons de amarula, então?! Lotaram a minha Kombi
todinha! – informa impressionado um líder do SindiPelego.
- O pior foi preparar a redoma da rainha do jeitinho que ela
aprecia. Vocês sabem como sua alteza é temperamental e sujeita a fricotes. Nós
passamos o final de semana todo deixando tudo como ela gosta. Cor de rosa e
perfumado. O vidro fume bem nebuloso, com a melhor e mais distorcida visão do
reino possível. Assim ela não precisa ser incomodada com o que ocorre lá fora,
em Mundo Real. Deu um trabalhão danado. – queixa-se um dos pajens.
- Que trabalheira infernal. Tudo por causa daquela miserável
da Justiça. Se ela não tivesse se metido onde não devia, nada disso teria sido
necessário. Poliana nunca teria deixado o castelo e nós não perderíamos tanto
tempo. E dinheiro. – reclama outro bobo.
- Também pudera. O que se podia esperar daquela velha cega,
surda, muda e além de tudo esclerosada! Não sabe nem mais o que diz a coitada.
Já é mais do que hora de alguém aposentar Justiça. O nosso mundo seria muito
melhor sem ela. – afirma outro indignado companheiro.
- É a pura verdade. Que falta faz um paredão por aqui! Com
Justiça e Imprensa Livre perfiladas dava para fazer uma faxina. Aí sim, esse
reino ia pra frente. – concorda o outro sonhador.
- Justiça é uma mentecapta, isso sim. Louca e histérica. –
exalta-se outro.
- Como vocês ousam dizer um absurdo desses, seus ignorantes!
– grita Poliana adentrando no recinto. – Eu nunca mais quero ouvir nenhum de
você dirigindo qualquer palavra desrespeitosa para Justiça, ouviram bem!? –
ordena com seu conhecido timbre esganiçado pelo destempero. – Onde já se viu
tamanho absurdo. Falar dessa forma de uma senhora tão distinta e coerente!
- Você está brincando, né Poliana? – questiona um dos pajens
um tanto assombrado.
- Eu estou falando seriíssimo. Eu sou uma monarca aclamada
pelo povo e não vou permitir que ninguém em meu reino ouse difamar Justiça.
- Mas Poliana, nós fizemos passeata, carreata e bandeiraço
contra Justiça. Você proferiu dezenas de discursos reclamando da bruaca! Você
endoidou de vez?
- Eu fiz? – pergunta Poliana com ar pensativo – Pois não me
lembro mais. Tudo que fiz, fiz movida pela paixão. Coisa de momento. Vocês
sabem como sou emotiva. – esclarece.
- Você não pode ter esquecido toda a humilhação que Justiça
lhe fez passar rainha. Toda a perseguição desmedida. Não só contra você, mas
esse complô dela contra os membros mais sérios e notórios de nosso clã. –
indigna-se uma velha estrela.
- Foi só um pequeno lapso de Justiça. Coisas de velha caduca.
Mas ela já se redimiu. Isso não vai se repetir. Justiça está do nosso lado
agora. – garante Poliana
- Será? – duvida um dos presentes
- Claro que sim. Nossos articuladores na sede do poder
central já garantiram. Justiça joga no nosso time. – afirma sua majestade muito
segura de si.
- Não sei não alteza. Vai que ela muda de ideia novamente.
- Não vai mudar. O jogo agora é nosso. Oposição que fique
emburrada assistindo nosso time jogar. Pra ela que gosta tanto de ataque vai se
surpreender com nossa retranca. – gargalha Poliana.
- Nós não vamos ganhar no tapetão?
- Não. Na enrolação. Basta um bom zagueiro que segure firme a
bola para arrastar o jogo e levar a galera à exaustão. Se precisar nós temos
tarimba e manha de argentino. Caímos no campo, simulamos falta, imploramos
impedimento. Nesse jogo com Justiça vale tudo.
- Vale até dedo no olho? – pergunta um companheiro, malandro.
- Isso não adianta nada, queridinho. A Justiça já é cega.
- Mas será que ela é burra? – pergunta outro ainda
preocupado.
- Isso nós estamos pagando pra ver. E veremos. Avante torcedores!
Vamos logo seus molóides. Vistam essas camisas de nossa torcida organizada e
vamos vencer esse joguinho. – ordena a imperatriz Poliana, vestindo seu
novíssimo traje de animadora de torcida. Na camiseta baby look , um enorme
coração vermelho salpicado de estrelas e a frase “Eu amo Justiça!”
SABE QUE SE O SCHIMIDT ENTRAR ERECHIM IRÁ TER OUTRO PREFEITO CASSADO. MEU DEUS VOU SER A TERCEIRA VIA NA PRÓXIMA ELEIÇÃO,POIS GARANTO QUE MINHA FICHA É BRILHANTE MAIS QUE LIMPA.
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