E na reta final da turnê a
Horário Eleitoral, quem precisa arregaçar as mangas e dar a cara a tapa para
salvar sua cambaleante equipe? Ela! Sempre ela, Poliana, a monarca popstar. Pelo visto, a rejeição à
duradoura e bastante lucrativa aliança entre o clã estrelado e a irmandade do
fogo, não havia sido contabilizada pelos marqueteiros da dupla escolhida para
suceder nossa visionária rainha no trono. Uma coisa precisava ser dita sobre
Poliana: sua lealdade aos seus pares era digna de elogio. E sua insistência em
persistir em um erro, também.
E como apagar as famigeradas
estrelas das propagandas não fora suficiente para iludir os tolos, era preciso
atitudes mais drásticas.
- Cortem as cabeças! Cortem as
cabeças! – gritava esganiçadamente Poliana, em seus conhecidos ataques de
fúria. – Precisamos conter a queda dos
números! Será possível que vocês não sabem fazer nada sem a minha ajuda! –
vocifera para o grupo de bobos da corte e marqueteiros. Todos apalermados com
os resultados de suas pesquisas.
- Nós estamos tentando, alteza. Já
escondemos todas as estrelas e bandeiras vermelhas. Nossa militância está
camuflada e vestida de branco. Tudo muito paz e amor! E ainda assim o povão tem
nos recebido a chutes e vassouradas! – choraminga um dos bobos, massageando o
glúteo dolorido depois de uma sarrafada de uma velhinha em sua última incursão
na periferia.
- Não adianta discursinho paz e
amor e roupas de querubins quando se tem o famigerado Golesma Bonder no time,
seus molóides! Até os postes desse reino se lembram do tempo em que o infeliz
praticava atentados terroristas, colando fechaduras de empresas. Em tempo de
desemprego, com tanta empresa fechando as portas por aqui, ter na disputa um
desocupado profissional e pós-graduado em baderna não deve ser muito atrativo
para o povo, não é seus energúmenos?! – continua Poliana, com os olhinhos de
biscuit flamejantes.
- Você está sendo muito dura,
rainha! – queixa-se o marqueteiro, encolhendo a barriga, estufando o peito e
tentando salvar seu pescoço da guilhotina. – Nós demos uma repaginada no Golesminha.
Usamos uma base efeito mate e pó translúcido antibrilho. Um make divo! E queimamos todos os bonés do
FarsaSindical e camisetas do Movimento Só Tramoia e Trago – MSTT. Ele agora usa
um chapeuzinho estiloso e muito distinto. Ninguém vai reconhecer nele nada que
lembre seus tempos de arruaceiro. – conclui, orgulhoso.
- A franja, seu estúpido! A
franja! – grita Poliana, perdendo de vez a cabeça. – O chapéu só esconde a
franjinha, cada vez mais rala. Seu radicalismo do passado é marca registrada do
Golesma Bonder. Ele é um companheiro de raiz. É reconhecido onde quer que passe.
Vocês podem vestir ele de mórmon e colocar a bíblia embaixo de seu braço, que
ele vai continuar sendo o que é: um adorador da estrela! Todo mundo olha pra
ele e enxerga uma estrela vermelha e reluzente na testa. Ele precisa ser
cortado!
- Cortar sua cabeça, magnânima?!
Não acha um pouco radical? Podemos tentar cortar um pouco mais a franja, talvez
raspar, e...
- Cortado dos panfletos. Do
rádio. Da TV. Das ruas e dos comícios. Enfiem ele dentro de um armário junto
com os discos do Vandré e os livros de Marx, e só abram a porta quando o
campeonato terminar. Isso é uma ordem! De agora em diante quem assume a
estratégia desse time sou eu! – ordena Poliana com o nariz empinadinho. – Eu,
com meu carisma e popularidade, vou garantir, novamente, a vitória para todos nós nessa reta final.
- E como vamos fazer isso,
alteza? – pergunta, humildemente, o marqueteiro.
- Eu vou para as ruas. Aparecerei
em todas as inserções nos meios de comunicação. Vou explicar ao povão que nossa
estrela não é a mesma que se lambuzou em propinas e afundou todo Gigante
Adormecido no abismo econômico. Que nossa aliança não é igual a aliança
golpista entre interesseiros e velhas raposas. – Observando o ar confuso de sua seleta
audiência, Poliana reflete um pouco e continua: - Quer dizer... na verdade é a mesma
estrela, mas é diferente... Se é que vocês me entendem. As raposas não são tão
velhas, né? – vacila um pouco a determinada monarca. – E ninguém viu as
propinas chegarem por aqui. – continua a
rainha. Respirando fundo e olhando fixamente para o horizonte, ensaiando seu
papel para as câmeras, com a voz pausada lança seus melhores argumentos: – Roubar,
minha gente, todo mundo roubou. Ou vai roubar. Vocês, gente, precisam enxergar
e valorizar quem ainda não foi pego. Essa é a verdadeira mudança! Nós mudamos,
porque mudar faz bem! Somos o novo! Somos a nova forma de mudar os discursos para
continuar tudo igual. Sem vergonha. Sem pudor. Sem remorso! – com a mão espalmada
no peito e ar de sacerdotisa, continua - Esqueçam a razão! Deixem o cérebro de lado e
venham com a gente. Feche os olhos e aposte no 13! – conclui com sua voz doce
de encantadora de multidões.
- Nãaaao! 13 não! – gritam os
bobos da corte e o marqueteiro, com as mãos na cabeça.
- Ops! Desculpe companheirada! É
a força do hábito. Treze agora é o número do azar. – desculpa-se Poliana. –
Pensando bem... isso pode virar um jingle! – exclama Poliana, ensaiando uma
dancinha e puxando o grupo para acompanhá-la:
“Esqueça o 13. Não é mais 13. Escondemos o 13. Camuflamos o 13. Ignore
o 13!”
E assim, Poliana, a eterna vendedora
de ilusões, se preparava para desatolar sua equipe e conquistar mais um título
para seu time. Sempre fiel aos seus pares. Afinal, quem sai aos seus não se
regenera jamais.
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