Em Horário Eleitoral a pasmaceira
e o discurso paz e amor não duraram nem uma semana. A troca de farpas já começara
a dar o tom da disputa. E não é que os primeiros ataques partiram justo da
escolhida de Poliana, a sempre doce e virginal Obtusa. Sinal inconteste de que
as coisas não corriam como o esperado para os apoiadores do continuísmo. Tentar
camuflar a presença do velho clã estrelado parece não ter conseguido desgrudar
o estigma da estrela da candidata ao trono. Tomar para si feitos que não foram
seus e requentar promessas antigas, ao que parecia, já não surtia o mesmo
efeito de outrora.
E mudança era a bola da vez.
Todos clamavam por mudança. Até os que estão hoje no poder, e com unhas e
dentes se agarravam para não deixa-lo escapulir, falavam em mudar. O povo,
desanimado, observava o festival de patifarias que lhe era apresentado
diariamente. Nos palanques, antigos rivais se abraçavam como se bons amigos
fossem. Nos discursos, velhos amigos se agrediam como se do mesmo barro não
tivessem vindo. O novo, tropeçava em sua inexperiência e falta de habilidade em
lidar com velhas raposas. Prova de que politicagem não passa de pai para filho
nos cromossomos, é uma arte que carece de aperfeiçoamento.
E se no mundo mágico de Horário
Eleitoral a pirotecnia estava limitada pela escassez de recursos, as mentiras e
fantasias continuavam a ser o ponto alto do espetáculo. A falta d’agua e os
racionamentos do passado foram definitivamente resolvidos pela turma da
situação. Até São Pedro parecia ter
tomado partido ao poupar o povo de uma estiagem, enquanto a tão prometida e
fraudulentamente inaugurada transposição de rio continuava sem ser concluída. Talvez
o querido Santo estivesse engrossando a enorme lista de carguinhos da corte de
Poliana.
Já a saúde, como sempre, era o
tema preferido na hora de se proferir tolices e vender ilusões aos incautos.
Poliana e sua escolhida à sucessão atingiram o ápice de calhordice ao se
vangloriarem dos agendamentos de consulta, convenientemente esquecidos de que o
fim dos agendamentos fora sua mais alardeada promessa de disputas não tão
distantes. Pois agora a doença pode esperar. E a espera por exames e consultas especializadas
podia ser longa, assim sabem os doentes estrategicamente ausentes nas
sorridentes imagens da televisão. E a turma de Poliana, agora em tons pastel,
inventara uma nova modalidade de formação médica: o self service de diplomas médicos. Bastava ao interessado efetuar a matricula
em uma instituição formadora local e já sairia prontamente com o diploma na
mão, apto, portanto, a fazer todo tipo de consultas e até cirurgias! Não se
sabe como ninguém pensara nisso antes. Ideias brilhantes costumam fluir de
cérebros prodigiosos. Genialidade não é para todos, infelizmente. E quando novos médicos começassem a jorrar
sobre os doentes, como benção em festa de padroeiro, talvez as novíssimas salas
cirúrgicas, também tão propaladas e festejadas nas propagandas, tivessem enfim
alguma utilidade. Por enquanto, eram só paredes, equipamentos e números,
enquanto os necessitados de cirurgias esperavam, por anos, para serem atendidos
em outros campos não tão pequenos.
E ao povo, senhor do momento,
restará escolher entre meias verdades, mentiras inteiras e novos engodos. Triste
sina desse povo ter sempre de se contentar com mais do mesmo.
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