O famoso e
esperado casal desce do automóvel de forma altiva, quase glamorosa. Ela, a
madame, de cabeça erguida e ombros eretos, percorre displicentemente o trajeto,
sorrindo complacente para as câmeras. Ele, segue logo atrás, exibindo um meio
sorriso, quase jocoso. Só não acenam para o público presente por terem sido
orientados pela escolta a manter as mão às costas. Ares de festa do Oscar é o
que se vê nas imagens. Mas, eram apenas
suspeitos de corrupção e lavagem de dinheiro sendo conduzidos à carceragem. O
retrato mais emblemático de Gigante Adormecido, essa terra tão excêntrica.
Verdadeira Jabuticaba.
A expressão do
casal não é de indignação, constrangimento ou revolta, como seria esperado de
inocentes. Tão pouco, o ar sofredor dos muito culpados que tentam posar de
vítimas. Eles sorriem desdenhosos para as câmeras. E o sorriso exibido é de
puro escárnio. Deboche pelo país, por seu povo, por suas leis e pela Justiça. Desprezo
pelo país da Jabuticaba e da corrupção. O mesmo escárnio e desdém que demonstra
o grande Ilusionista com suas desculpas toscas e esfarrapadas e seu eterno e
ridículo discurso de perseguição. A mesma zombaria dos apoiadores governistas que
em programas de televisão tentam se desgrudar de um governo moribundo, como se
não estivessem todos, há anos, no mesmo lado.
E,
curiosamente, nada surpreende, indigna ou constrange o país do carnaval. Não
somos todos corruptos, afirma a maioria do povo de Gigante Adormecido. Não. Mas
somos todos coniventes, omissos, inertes e condescendentes. Somos o povo desse
gigante eternamente hibernante. Somos a pátria que não se quer educadora. Somos
a terra que não se faz próspera. Somos a Nação que não luta para evoluir. Somos
uma gente que não pretende questionar ou agir. Que não valoriza as leis, a ordem
ou o mérito. Somos uma gigantesca massa amorfa de manobra. Somos o país do
futebol, da alegria, da hospitalidade e da falta de cerne, brio e dignidade.
Somos a imagem escrachada de nossos representantes. Não somos melhores que eles.
Eles são nossa criação e nosso espelho. Nem mais, nem menos. Somos merecedores
dos corruptos que desfilam sorridentes e altivos rumo ao confinamento
temporário. Somos dignos dos corruptos que se mantém a solta com ares de
grandes líderes. Somos um povo que se contenta com migalhas e esmolas. Medíocre
como os líderes que escolhemos. Indignos como os corruptos que elegemos.
Gigante Adormecido, terra do samba, do carnaval e da imoralidade
institucionalizada. Terra da inércia.
O sorridente
marqueteiro parece ter a certeza de conseguir convencer a justiça de sua
inocência. Tarefa fácil para quem conseguira eleger um poste e reeleger um
desastre. Ilusões e mentiras coloridas sempre foram suficientes para o povo
dessa terra. Talvez não sejam suficientes para a justiça. Esperemos para ver
com que sorriso a madame deixará a carceragem. Nós, o povo, estaremos sempre
sorrindo, afinal somos alegres por natureza.
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