Na antessala do palácio real, Poliana encarava atentamente o animal.
Olhos nos olhos, como era seu feitio. Nossa prestimosa rainha, olhava
firmemente o bichinho, enquadrando-o ameaçadoramente. “Daqui você
não sai. Daqui ninguém lhe tira.” - ameaça a magnânima, ao
pobre acuado animal.
Poliana, todos desconfiavam, era soberana absoluta na hora de
colocar o bode na sala. Fazia isso com maestria inigualável. Onde
nenhum problema havia, nossa monarca era rápida em arrumar um
enrosco e criar dor de cabeça aos seus súditos. E lenta, demasiado
e calculadamente lenta, na hora de resolver o problema criado por
ela. Quanto mais tempo o contribuinte vier a sofrer, mais rápida e
gloriosa será a ascensão de Poliana, a salvadora dos pobres
contribuintes indignados. Fora assim com o fechamento das rótulas.
Criara o caos para, anos mais tarde, vender a solução que não
seria necessária se Poliana e seus bobos não existissem. Poliana e
sua trupe eram até hoje enaltecidos por consertar o problema que
eles próprios ciaram. E se nossa alteza fora infalível na hora de
dificultar a mobilidade urbana, mostrava-se imbatível no momento de
infernizar aqueles que pretendiam apenas estacionar. Por muitos
meses, estacionar nas vias centrais de seu reino seria uma cruel e
cansativa penitência aos motoristas. Obra de Poliana, é claro! Para
que facilitar, se você pode complicar, era o lema da rainha. E
quando os humores dos motoristas e comerciantes ameaçavam explodir,
nossa monarca surge com a solução: estacionamento rotativo pago!
Sim! O mesmo que antes havia. Antes, bem antes, de Poliana colocar o
fedorento bode na sala. Que fantástica ideia, acreditavam os
exauridos motoristas. Como é que ninguém pensara em uma solução
tão simples e lógica?! Só mesmo Poliana para ter ideia, assim, tão
prática e despojada. Sorte desse povo contar com uma rainha tão
conhecedora dos problemas do reino.
Mas antes de dar o absoluto fim ao drama dos motoristas, Poliana
precisava alimentar e engordar um pouco mais o bode. Criar ainda mais
revolta e descontentamento. Deixar os contribuintes ainda mais
indignados. Não por não terem onde estacionar, mas por não
conseguirem encontrar uma viva alma a quem pudessem pagar pela
maldita vaga ocupada. A honestidade dos motoristas e contribuintes,
acostumados a honrar seus débitos, transformava as avenidas em
desertos de veículos. Os súditos honestos, vagavam desarvorados
pelas ruas em busca de alguém a quem pudessem quitar o valor devido
por cada minuto estacionado. Não encontrando ninguém, partiam
apavorados, ou deixavam bilhetes constrangidos nos parabrisas dos
automóveis. Quem deve, teme, pensam os contribuintes. E quem lucrava
com o caos e constrangimento dos honestos, era ela, Poliana, a rainha
do bode na sala. Enquanto os idiotas penam, Poliana sorri,
satisfeita. Nada está tão ruim que não possa piorar um pouquinho,
pensa Poliana. Quando o estacionamento estiver tão caótico quanto o
trânsito e as esburacadas ruas do reino, nossa alteza solucionará o
problema com um simples toque em sua varinha de condão. E todos
serão eternamente gratos a Poliana, a rainha-mãe do bode, e
madrasta dissimulada dos motoristas sem estacionamento.