Poliana sentia-se doente. Seu povo também. Este, no entanto, corria
o risco de ficar desassistido em momento de enfermidade. A saúde
estava em grave crise, como nunca antes na história estivera. Mas,
não era culpa de Poliana, esforçava-se para esclarecer sua equipe
de marqueteiros. De fato, não era. Pelo menos não 100% culpa de
nossa monarca. A crise e a desgraça eram generalizadas. Ocorre que
Poliana, com seu espetaculoso jeito de superfaturar seus feitos – a
maior qualidade da monarca - vendera há muito pouco tempo uma nova
forma de gestão do nosocômio local como uma mágica poção para a
entidade e todos os reinos vizinhos. Um remédio doce e 100% eficaz.
E, na época, 100% obra de Poliana, a rainha do alinhamento
sustentável. E Poliana brilhara, como brilhavam as estrelas
alinhadas daquele tempo. Posava para fotos. Sorria para os flashes.
Debulhava-se em lágimas de emoção e esganiçava a voz nos
acalorados discursos em Horário Eleitoral. Poliana era uma popstar.
A rainha mãe de 100% dos enfermos e desassistidos. A todos aqueles,
e não foram poucos, que tentaram alertar sua alteza da temeridade de
seus atos, Poliana torcia seu arrebitado nariz. Gentinha invejosa,
enciumada com seus méritos e com evidentes interesses políticos,
acusava Poliana, 100% convicta.
E o tempo passou, como passa sempre em 100% dos reinos. E as
decisões de nossa rainha mostraram-se equivocadas antes mesmo do
término da romântica turnê a Horário Eleitoral. Até mesmo as
três estrelas alinhadas apagaram-se para Poliana excessivamente
cedo. E quando a escuridão da inconsequência, da demagogia e das
promessas não cumpridas atinge gravemente o nosocômio regional,
Poliana coloca em prática sua segunda maior qualidade: desgrudar-se
do problema como chiclete envelhecido. Não é hora de apontar
culpados, o momento é de encontrar soluções, discursa a
magnânima gestora, com seus conhecidos jargões de porta de banheiro
público.
E a esplendorosa Poliana, que já fora a popstar 100% mãe do
milagre, transforma-se com um passe de mágica e marketing em
Poliana, a rainha sofredora, 100% preocupada em resolver um problema
que, agora, não era seu, era de todos. Nossa destemida monarca
lançava mão da conhecida estratégia de seu clã estrelado:
capitalizar os louros e socializar os prejuízos. Curiosa e
conveniente lógica socialista. E a todos aqueles que criticam nossa
rainha, ou ousam sugerir que Poliana corte mais fundo em sua própria
carne em momento de tão grave crise, a monarca e sua vastíssima
corte respondiam 100% indignados: gentinha maledicente e com
evidentes interesses políticos. A boa e velha retórica usada por
100% de seus companheiros de estrela. Discursinho 100% asqueroso e
100% medíocre, digno de quem abdicou de 100% de sua vergonha.
O tempo passa, quase tudo muda. Só Poliana não muda. É, como
sempre foi e eternamente será. A rainha do espetáculo, das frases
de efeito e dos palanques. Um embrulho colorido e marqueteiro 100%
perfeito, para uma rainha que corria o risco de provar ser 100% um
embuste.
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