domingo, 12 de julho de 2015

Cem por cento Poliana


 Poliana sentia-se doente. Seu povo também. Este, no entanto, corria o risco de ficar desassistido em momento de enfermidade. A saúde estava em grave crise, como nunca antes na história estivera. Mas, não era culpa de Poliana, esforçava-se para esclarecer sua equipe de marqueteiros. De fato, não era. Pelo menos não 100% culpa de nossa monarca. A crise e a desgraça eram generalizadas. Ocorre que Poliana, com seu espetaculoso jeito de superfaturar seus feitos – a maior qualidade da monarca - vendera há muito pouco tempo uma nova forma de gestão do nosocômio local como uma mágica poção para a entidade e todos os reinos vizinhos. Um remédio doce e 100% eficaz. E, na época, 100% obra de Poliana, a rainha do alinhamento sustentável. E Poliana brilhara, como brilhavam as estrelas alinhadas daquele tempo. Posava para fotos. Sorria para os flashes. Debulhava-se em lágimas de emoção e esganiçava a voz nos acalorados discursos em Horário Eleitoral. Poliana era uma popstar. A rainha mãe de 100% dos enfermos e desassistidos. A todos aqueles, e não foram poucos, que tentaram alertar sua alteza da temeridade de seus atos, Poliana torcia seu arrebitado nariz. Gentinha invejosa, enciumada com seus méritos e com evidentes interesses políticos, acusava Poliana, 100% convicta.
E o tempo passou, como passa sempre em 100% dos reinos. E as decisões de nossa rainha mostraram-se equivocadas antes mesmo do término da romântica turnê a Horário Eleitoral. Até mesmo as três estrelas alinhadas apagaram-se para Poliana excessivamente cedo. E quando a escuridão da inconsequência, da demagogia e das promessas não cumpridas atinge gravemente o nosocômio regional, Poliana coloca em prática sua segunda maior qualidade: desgrudar-se do problema como chiclete envelhecido. Não é hora de apontar culpados, o momento é de encontrar soluções, discursa a magnânima gestora, com seus conhecidos jargões de porta de banheiro público.
E a esplendorosa Poliana, que já fora a popstar 100% mãe do milagre, transforma-se com um passe de mágica e marketing em Poliana, a rainha sofredora, 100% preocupada em resolver um problema que, agora, não era seu, era de todos. Nossa destemida monarca lançava mão da conhecida estratégia de seu clã estrelado: capitalizar os louros e socializar os prejuízos. Curiosa e conveniente lógica socialista. E a todos aqueles que criticam nossa rainha, ou ousam sugerir que Poliana corte mais fundo em sua própria carne em momento de tão grave crise, a monarca e sua vastíssima corte respondiam 100% indignados: gentinha maledicente e com evidentes interesses políticos. A boa e velha retórica usada por 100% de seus companheiros de estrela. Discursinho 100% asqueroso e 100% medíocre, digno de quem abdicou de 100% de sua vergonha.
O tempo passa, quase tudo muda. Só Poliana não muda. É, como sempre foi e eternamente será. A rainha do espetáculo, das frases de efeito e dos palanques. Um embrulho colorido e marqueteiro 100% perfeito, para uma rainha que corria o risco de provar ser 100% um embuste.  

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