Nossa Rainha Mãe estava cada dia mais esbelta. E satisfeitíssima
com suas novas formas. Pretendia ser uma monarca renovada nesse
segundo tempo de seu reinado. Sua famosa dieta era pura eficiência.
Perdia medidas a cada dia, comemorava sua alteza. A cada semana menos
pontos na balança. A exemplo da economia de seu reino, que
despencava vertiginosamente. Os especialistas em nutrição e
metabolismo alertavam a rainha de que, em breve, seu emagrecimento
iria perder força e estacionar. Os especialistas em economia não
eram tão otimistas. Estacionário ficaria o crescimento do reino,
sabe-se lá por quanto tempo. A inflação prometia enxugar o
orçamento do povo. Os que mais sentiriam os trágicos efeitos seriam
os mais pobres. Justamente a nova classe média. Aquela classe média
criada pelos marqueteiros reais. A que come, mora, e pasmem!, até
anda de avião, com menos de meio salário. Uma obra de ficção da
realeza, mas que fizera bonito nas propagandas oficiais. Agora, quem
prometia fazer bonito nas fotos era sua alteza real.
Para auxiliar na dieta e acelerar a perda de peso, a Rainha Mãe
resolvera pedalar. Pedalava para gastar as calorias que consumira em
excesso nos últimos anos, obedecendo as leis da física. Diferente
de suas pedaladas fiscais. Essas serviram para maquiar o fato de ter
gasto mais do que podia, contrariando a lei de responsabilidade. E o
bom senso administrativo. Com força e vigor, pedalava ladeira acima,
enquanto o poder de compra de seus súditos rolava ladeira abaixo.
Era preciso muito trabalho, incentivavam os preparadores físicos e
personal trainers da rainha. Já faltava trabalho e o emprego
encolhia, anunciavam as estatísticas.
Para manter a saúde e boa forma física, a Rainha Mãe fizera
importantes ajustes e cortes em sua alimentação. Nada de
carboidratos e gorduras. Doces então, nem pensar! Novos hábitos
para superar anos de excessos e negligência. Para recuperar a
economia, quase perdida por anos de negligência e excessos, quem faz
ajuste é o povão. Nada de seguro desemprego, em tempos de
desemprego crescente. Pensões, então, nem pensar! O povo precisava
entender que era necessário fazer sacrifícios em nome da saúde fiscal.
Uma pena que as dietas alimentares não fossem como a economia do
reino, pensa a monarca, esfomeada. Quem dera pudesse terceirizar as
restrições e sacrifícios de sua dieta ao povo, também. Nem tudo é
perfeito, constata a rainha de formas enxutas e popularidade
raquítica, já sonhando com os pães de queijo e doce de leite de
sua terra natal.
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