domingo, 7 de junho de 2015

Ajustando o cinto do povão


 Nossa Rainha Mãe estava cada dia mais esbelta. E satisfeitíssima com suas novas formas. Pretendia ser uma monarca renovada nesse segundo tempo de seu reinado. Sua famosa dieta era pura eficiência. Perdia medidas a cada dia, comemorava sua alteza. A cada semana menos pontos na balança. A exemplo da economia de seu reino, que despencava vertiginosamente. Os especialistas em nutrição e metabolismo alertavam a rainha de que, em breve, seu emagrecimento iria perder força e estacionar. Os especialistas em economia não eram tão otimistas. Estacionário ficaria o crescimento do reino, sabe-se lá por quanto tempo. A inflação prometia enxugar o orçamento do povo. Os que mais sentiriam os trágicos efeitos seriam os mais pobres. Justamente a nova classe média. Aquela classe média criada pelos marqueteiros reais. A que come, mora, e pasmem!, até anda de avião, com menos de meio salário. Uma obra de ficção da realeza, mas que fizera bonito nas propagandas oficiais. Agora, quem prometia fazer bonito nas fotos era sua alteza real.
Para auxiliar na dieta e acelerar a perda de peso, a Rainha Mãe resolvera pedalar. Pedalava para gastar as calorias que consumira em excesso nos últimos anos, obedecendo as leis da física. Diferente de suas pedaladas fiscais. Essas serviram para maquiar o fato de ter gasto mais do que podia, contrariando a lei de responsabilidade. E o bom senso administrativo. Com força e vigor, pedalava ladeira acima, enquanto o poder de compra de seus súditos rolava ladeira abaixo. Era preciso muito trabalho, incentivavam os preparadores físicos e personal trainers da rainha. Já faltava trabalho e o emprego encolhia, anunciavam as estatísticas.
Para manter a saúde e boa forma física, a Rainha Mãe fizera importantes ajustes e cortes em sua alimentação. Nada de carboidratos e gorduras. Doces então, nem pensar! Novos hábitos para superar anos de excessos e negligência. Para recuperar a economia, quase perdida por anos de negligência e excessos, quem faz ajuste é o povão. Nada de seguro desemprego, em tempos de desemprego crescente. Pensões, então, nem pensar! O povo precisava entender que era necessário fazer sacrifícios em nome da saúde fiscal.
Uma pena que as dietas alimentares não fossem como a economia do reino, pensa a monarca, esfomeada. Quem dera pudesse terceirizar as restrições e sacrifícios de sua dieta ao povo, também. Nem tudo é perfeito, constata a rainha de formas enxutas e popularidade raquítica, já sonhando com os pães de queijo e doce de leite de sua terra natal.

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