Deus
chorava em um lugar escondido. Devia ter errado em algum momento.
Criara o homem com a dádiva do intelecto e da razão. Diferente de
todas as outras espécies. O racionalismo faria toda diferença,
pensara. Tolerância! Achara que a tolerância adviria com a razão.
Ponderar sobre as divergências. Aceitar as discordâncias. Suportar
as diferenças. Parecia, a Ele, tão claro e lógico. Enganara-se.
Seus filhos, dotados do poder da razão, comportavam-se como tolos.
Tolos, intransigentes, intolerantes e sanguinários. Eram menos que a
mais irracional de Suas criaturas. Eram dignos de pena, somente. Lhe
envergonhavam e entristeciam, lamentava o Criador.
Em Seu
nome mataram e ainda matavam. Em Seu nome perseguiam. Em Seu nome
separavam e discriminavam. Faltava hombridade aos Seus filhos.
Careciam de dignidade, de cerne e de vergonha. Como Pai, falhara. Não
impusera limites. Fora demasiadamente conivente com os seus
desatinos. Dera-lhes excessivas liberdades. Liberdade! O humor era a
expressão máxima da liberdade. O humor que diverte e faz rir,
também critica e faz refletir. A conjunção perfeita entre
liberdade e razão. Assassinaram o humor, os Seus filhos. Em total
ausência de razão. E foi em Seu nome que o fizeram! Como se Ele,
ao dar ao homem a capacidade de pensar, de refletir e de julgar, não
o tivesse feito para que diferentes fossem uns dos outros. Para que
crescessem e amadurecessem com as divergências. Para que
exercitassem a tolerância. Mas, mesmo dotados de razão, em milhares
de anos, os Seus filhos não conseguiram entender algo tão
ridiculamente simples. Queriam-se todos absurdamente iguais, os Seus
filhos. Iguais em cor, em crenças, em opiniões, em sexo. Como
amebas. Deveria ter parado nas amebas, pensa o Criador, tristonho.
Mas, criara o homem por apreciar o humor. Humor! O melhor presente que
puderam dar a Ele. União plena da razão com o sentimento. A mais
bela e perfeita criação do homem. Verdadeiro orgulho para um Pai. E
Seus filhos queriam assassinar o humor em Seu nome. Amebas! Deveria
ter povoado o mundo com amebas. Hoje, ao menos, não se sentiria tão
desoladamente triste e desapontado. Mas, que falta Lhe faria o humor!
Já não conseguiria seguir em frente sem o humor dos homens, um
presente de Seus filhos ao seu Criador. Lhe restava, apenas, esperar
que Seus filhos um dia queiram evoluir como homens, ao invés de
desejarem ser estupidamente iguais, como as amebas.
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