Ano novo.
Novo reinado. Mas tudo parecia cansativamente igual em Gigante
Adormecido. Ou quase tudo. Nossa Rainha Mãe nem de longe parecia-se
com a administradora competente e aguerrida que há alguns anos
chegara pela primeira vez ao trono. Uma plateia mirrada ouvia o
pronunciamento real sem muita empolgação. Nem o tradicional pão
com mortadela fora atrativo suficiente para levar a companheirada em
massa à solenidade. Seu segundo reinado começava amarrotado, com
cara e jeito de ressaca.
Mas, há
novas caras na corte da Rainha Mãe. Caras que sequer sabiam para que
vieram, faziam poses sorridentes para as fotos. O critério de
escolha de nossa magnânima para sua vastíssima corte real seguiu o
tradicional loteamento de carguinhos em troca de apoio e
subserviência. Reinado novo; práticas bolorentas; resultado
previsível.
O
responsável pela pesca não diferenciava um anzol de um arame
farpado, mas fisgara uma boquinha inútil paga com dinheiro
público.
Para
cuidar do futuro cada vez mais incerto dos aposentados, ninguém
melhor que um companheiro motociclista, sempre pronto a curtir a vida
e seu novo carguinho sobre sua Harley Davidson. Coisa que nem ousam
sonhar os pobres aposentados desse imenso reino. Todo aposentado
deveria comprar uma Harley e conhecer o mundo. Isso abre os
horizontes e areja a mente. Talvez, seja essa ideia que motivara nossa
rainha na hora da estranha escolha.
Em
tempos de contínua e rápida evolução mundial da ciência e
tecnologia, nada mais inovador que nomear um líder contrário a
adoção de tecnologias poupadoras de mão de obra para levar esse
gigantesco reino de volta ao tempo das manivelas e das máquinas a
vapor. Eterno ideal socialista.
Para
chefiar as comunicações, ninguém mais preparado que um destemido e
descarado defensor da censura na mídia. Com gente desse quilate na
pasta, no futuro, até comercial de creme dental deverá sofrer sérias
restrições. Outro sonho antigo da companheirada.
Já que
em breve os jogos Olímpicos devem aterrissar por aqui, o homem forte
dos esportes pode não ser lá muito familiarizado com o tema - nem
com as bolas - mas conhece bem de perto as boladas. Carregava-as, até
pouco tempo, em maços camuflados em caixas, mas não nas cuecas! Nossa Rainha Mãe
parece ter certo fetiche pela Papuda pois, ao seu redor, quem ainda
não conheceu as acomodações do local, em breve poderá passar uma
temporada por lá. Nada mal para nossa destemida e corajosa faxineira
ética.
E nossa
nova Rainha Mãe? Continua a mesma. A mesma rainha-candidata de
semanas atrás. Ainda não desceu do palanque. Persiste no discurso
cansativo, sobre o mesmo reino fantasioso de Horário Eleitoral.
Promete as mesmas promessas requentadas de quando assumira seu
primeiro reinado, com as frases desconexas que são a sua cara. Como
sempre, não demonstra a que veio. Sobre o mais escabroso escândalo
de corrupção em nossa Estatal do Petróleo, passa voando,
contemplativa, por cima. Acusa por essa sangria do dinheiro do povo
os “predadores internos” e “inimigos externos”. Os predadores
internos ela conhece bem, pois foi quem os nomeou, indicou ou
aceitou, no mesmo modus operandi usado na escolha dos novos
membros da sua corte. Já os inimigos externos devem ser alienígenas,
enviados de Oposição ou da Mídia Golpista para desmoralizar nossa
rainha e seus confrades. Ou talvez os investidores estrangeiros que
ousaram cobrar na justiça a leniência da rainha e seus vassalos com
a roubalheira estatizada. Quem sabe o que se passa nos neurônios
desconexos de nossa monarca.
E o pior
ainda estava por vir. Quatro anos que prometiam ser longos. Quatro
anos de uma oposição ferrenha e afeita a golpes baixos. A oposição
de seu próprio clã. Liderada por seu criador, o Ilusionista. O
criador já mostrava, na surdina, suas garrinhas prontas a aniquilar
sua criatura. Tudo pelo seu velho projeto de poder. Resta saber se
nossa Rainha Mãe será uma dócil cordeirinha pronta ao sacrifício
para abrir o caminho para volta do salvador. Os próximos capítulos
dirão.
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