sábado, 28 de junho de 2014
sábado, 21 de junho de 2014
A Plagiada Poliana!
Confortavelmente
sentada em seu trono, protegida do frio e da realidade pela poderosa
blindagem de sua redoma, Poliana dedicava-se ao tricô. Como era
difícil ser rainha nos dias atuais. Por mais que se esforçasse,
dedicasse e viajasse, sempre havia críticas. Era tudo tão
diferente de Horário Eleitoral. Lá nunca chovia, o céu era sempre
azul, e não existiam buracos no asfalto, queixas ou críticos. Nem
imitadores que ousassem plagiar Poliana!
- Não
aguento mais receber WhatsApps com áudios desse menino, que
dizem estar imitando a rainha. E já há até uma Fanpage
plagiando minha adorada figura! - queixa-se a monarca para sua
corte.
- E
é um verdadeiro sucesso! Eu sou um seguidor e fã da página. É
muito divertida. - empolga-se um dos pajens, animado.
- Eu
não vejo graça nenhuma! - revolta-se Poliana, largando
temporariamente o tricô e cruzando os braços emburrada. - Ele é
péssimo imitador! - continua, despeitada.
- Sem
essa, Poliana! As imitações são ótimas. - retruca um dos
companheiros.
- Não
sei em que! Desde quando eu falo daquele jeito esganiçado? E nunca
na vida escoreguei nos éres, nos meus emocionantes
discursos! Ou vocês vão discordar de sua alteza? - questiona a
intimidadora rainha.
- Claro
que não majestade! Você jamais escorrega. Desliza com muito
charme.- intervém um dos bobos, bajulador, para não comprometer
seu carguinho. - E também não esganiça. Seus agudos são música
para nossos ouvidos.
- Como
imitador, o rapaz é fraquinho. Mas tenho de admitir que tem boas
ideias e projetos em sua página. Talvez devêssemos pensar em
ofereceu um carguinho para ele no planejamento. - reflete a
soberana.
- Acho
que não vai ser possível, Poliana. Nossos bobos da corte não
aceitam competição em projetos estapafúrdios. - sussurra um dos
pajens.
- Por
falar em planejamento, gostei da repercussão de nosso novo projeto
de revitalização do mato. Fazia tempo que nenhuma de nossas
ideias causava tanta comoção.
- É
verdade. Teve muita polêmica a retirada das tais árvores
invasoras.-concorda um dos bobos.
- Gente
sem visão ou conhecimento. Mas nossa tática deu certo.-
entusiasma-se Poliana.
- Tática?
Que tática?
- Dar
uma desmatadinha politicamente correta no parque, e anunciar um
projeto imponente de revitalização só para desviar a atenção
dos súditos.- explica a rainha.
- Desviar
a atenção do que? Estamos cometendo algum grande desvio ético
que eu não estou sabendo ou participando? - pergunta outro
companheiro, esfregando as mãos, em expectativa.
- Nada
disso, seu molóide. Desviar as atenções de Imprensa Livre e do
povão da nossa incompetência e lentidão em fazer uma reles
calçada e uma cerca em torno do local. Eu fui dar uma olhadinha
por lá. Nós, por acaso, contratamos umas lesmas para fazer o
serviço? Aquilo não sai do chão há meses. As pirâmides do
Egito foram erguidas em tempo mais curto. - ironiza a rainha.
- É
uma obra complexa, alteza. E a chuva está atrapalhado o andamento.
- justifica-se Santo Jorge, o bobo das obras, enquanto dedilhava
seu violão.
- Pra
você, Santo Jorge, com toda sua conhecida disposição de pedalar
em serviço e cantarolar ao invés de trabalhar, até uma
churrasqueira é uma complexa obra de engenharia. - cutuca a rainha
– Mas pelo menos a derrubada das árvores vai entreter Oposição
por algum tempo. E nos render lenha para o inverno. - conclui
Poliana, apreciando seu tricô - Toda essa conversa fiada me deu
sede. Santo Jorge, pega uma lanterna e vai me buscar uma laranjinha
Balvedi. Com a tampinha furada! - ordena a rainha.
- Laranjinha?!
- pergunta o outro perplexo – A onde eu iria arrumar uma coisa
dessas?! Saiu de mercado há décadas!
- Você
não viu na Fanpage do meu plagiador? Ele descobriu um
estoque de laranjinhas escondidas em um de nossos bem cultivados
buracos no asfalto. Pega o endereço na página, corre lá e me
traz logo uma dúzia de garrafinhas. Aproveita e dá uma olhada no
espaço do local. Quem sabe podemos esconder toda nossa nova lenha
por lá. - conclui Poliana, voltando à confecção de seu gorrinho
temático com a cara do Fuleco, padrão Fanpage polianoplagiada.
domingo, 15 de junho de 2014
Gigante Adormecido - da realidade, padrão descaso, à fantasia padrão Fifa
O
Gigante Adormecido hoje não era mais o mesmo. Por trinta dias seria
o reino encantado com que sempre sonhara seu crédulo povo. Sem as
pequenas, e nessa época insignificantes, mazelas diárias da
população. Nada de transporte público sucateado ou insuficiente.
Nenhuma emergência hospitalar superlotada, com falta de
profissionais, medicamentos ou estrutura básica. Nenhum assalto ou
violência. Sem rodovias ou estradas inseguras e abandonadas pelo
poder público. Pobreza, ah a pobreza, essa há anos deixara de
existir. Por decreto da Rainha Mãe, todo aquele que se declarasse
pobre era automaticamente promovido à classe média. Pois esta
semana, como em um passe de mágica, o povo adormeceu na inércia e
incompetência padrão descaso, e acordou na alegre e carnavalesca
terra, padrão Fifa. Era pura euforia, padrão carnaval.
Pena
que seu povo não siga o padrão oficial de educação
internacional - pensa a Rainha Mãe, emburrada, depois de vaias e
palavras grosseiras dirigidas a sua alteza na abertura dos jogos
mundiais. Coisa de uma elite branca, desocupada, e que nasceu em
berço esplêndido - consola seu antecessor no trono e eterno
messias, o Ilusionista. Que sorte da Rainha Mãe poder contar com o
apoio e suporte do popular e carismático Ilusionista. Nunca antes na
história de Gigante Adormecido houve um rei tão destemido, corajoso
e adorado por seu povo. Coragem e hombridade só lhe faltou na hora
de assumir, em frente a milhares de torcedores, a paternidade da
criticada copa de futebol em um país assolado por ineficiência e
insuficiência de serviços básicos. Preferiu, nosso ídolo, ficar
em casa, o destemido, cercado por seus eternos puxa sacos, que não
criticam sequer sua graciosa e hilária tendência em proferir
absurdos em público. E com as janelas fechadas, longe de qualquer
vaia que pudesse macular sua performance messiânica perante a
imprensa internacional.
Desgrudar-se
descaradamente do que compromete sua imagem irretocável, era uma das
especialidades do Ilusionista. Era capaz até de negar sua íntima e
fraterna relação com alguns de seus companheiros mais chegados e
fieis, os mensaleiros. Capaz de alegar nada saber, mesmo o que
ocorria bem debaixo de suas barbas de rei. Tivera até de raspar a
barba, que se tornara rala para encobrir tanta mesada, propina e
descaramento. Mas, ao Ilusionista, nada constrangia. Até sua
covardia era bem justificada. Por mera opção e comodidade escolhera
assistir os jogos no conforto de seu lar, longe do estádio do time
de seu coração e da copa que tanto lutou para trazer a seu reino.
Em nenhum momento pensara em abandonar sua pupila e escolhida, a
Rainha Mãe, sozinha para suportar as vaias e críticas de um povo
justificadamente revoltado e descontente. Como homem, há de se
convir, comportava-se quase sempre, como um verdadeiro molusco. Um
carismático molusco, é verdade. Hábil na arte da manipulação. Em
ambiente fértil aos moluscos estrelados, cercado de asseclas e
companheiros, classificava, em eloquentes brados, os protestos
populares, como obra de uma elite que estudou demais e que se sente
incomodada ao ver os pobres comendo melhor e frequentando aeroportos.
Discursinho delirante, simplório e asqueroso, padrão Hugo Chaves,
capaz de levar a estrelada plateia, padrão bolchevique, ao delírio.
Tudo certo, no país do carnaval, padrão fantasia, dos altos
impostos, padrão Suíça, mas de miseráveis retornos sociais,
padrão Bangladesh.
Para
um povão manipulável, padrão boi de canga, não precisamos
oferecer muito, aconselha o Ilusionista à Rainha Mãe, hoje
descabelada, ofendida e ultrajada. Basta apenas o futebol e a
fantasia, padrão pão e circo, continua o profeta. Um país, padrão
porcaria, sempre há de louvar um governo padrão falsidade e
hipocrisia. Àqueles que ainda sonham com um país, padrão
dignidade, resta apenas espernear, padrão desespero, ou acabar em
calabouços e paredões, ideal padrão socialista.
Felizmente
há o futebol, espetáculo de paixão popular, para nos desviar por
um tempo do padrão bom senso e senso crítico, e nos jogar na
fantasiosa realidade verde e amarela, padrão Gigante Adormecido,
conclui o eterno mestre do descaramento, o Ilusionista, padrão
desfaçatez.
sábado, 7 de junho de 2014
Poliana, a rainha mãe do rally
Uma
encharcada e enlameada Poliana adentra esbravejante em sua redoma,
para atirar-se em seu confortável divã cor de rosa. As provas do
rally tiveram fim. Sucesso de público e organização, mesmo sem ter
sido obra da rainha e sua corte.
- Credo!
Quanto barro e lodo nesse negócio de rally. Olhem só os meus
sapatos caríssimos! Completamente inutilizados! - queixa-se a
contrariada monarca.
- Eu
bem que avisei que botinhas de camurça não combinavam com o
evento. - lembra o assessor de marketing real e personal stilyst
de sua alteza.
- Mas
eu precisava dar um toque de requinte naquela jaquetinha sem graça.
A cor não me valorizava. E depois havia centenas iguais a minha!
Onde já se viu tamanho desaforo! Para o próximo rally exijo um
modelito exclusivo. À altura da minha classe e posição.
- Providenciaremos,
alteza. - concorda um dos bajuladores real.
- Nossa!
Que dor nas pernas! Quem foi que teve a infeliz ideia de criar um
esporte onde nós, os espectadores, temos de ficar horas de pé,
sem qualquer conforto?
- É
um rally, Poliana. Não um desfile de modas. O que você esperava?
Poltronas e ar condicionado? - pergunta o bobo do marketing, um
tanto impaciente. - E depois, você muito pouco ficou em pé. Nós,
seus bobos da corte, lhe carregamos nos ombros a maior parte do
tempo. Como sempre, aliás.
- Não
fizeram mais que a obrigação! Não esqueça, queridinho, que sou
eu que sustento todos vocês em seus carguinhos. Seu bando de
inúteis! - indigna-se sua alteza, ultrajada.
- Na
verdade, quem nos sustenta são os contribuintes.- sussurra o
outro.
- Mas
isso são águas, e barro, passados. O próximo rally será
completamente diferente. Nada de gente pendurada em barranco há
quilômetros da civilização. Meu projeto inclusivo, democrático
e participativo de um rally popular e cidadão, será enfim
implantado.
- Pronto!
Era só o que faltava. Quando a companheirada emenda todas essas
palavras vazias em um projeto, já sei que vou ter de me espichar
em mídia e marketing para justificar mais uma ideia ridícula e
que não serve pra nada. - desabafa o bobo mor do ilusionismo
patrocinado com dinheiro público.
- Pois
você está completamente enganado. Há anos eu venho maquinando uma
forma de fazer essa pocaria de rally, que vocês, seus colonos,
acham grande coisa, em um evento civilizado e a altura do reino que
eu construí.
- E
o que você pretende fazer, rainha? - questiona o bobo, já temendo
a resposta.
- Vou
transferir as provas para a zona urbana do reino, é lógico!-
declara a monarca.
- Na
cidade? Você só pode estar brincando! - espanta-se o outro.
- É
seriíssimo! Eu sou uma desportista nata, e uma visionária sem
precedentes. O esporte só terá a ganhar no meio urbano.
Ganharemos status internacional.
- Já
temos status internacional! E não tem como fazer rally na zona
urbana, Poliana! É um disparate!
- Você,
meu bobo do marketing pirotécnico, anda tão imerso nas
propagandas fantasiosas e mentirosas que divulgamos, que se esquece
de olhar o reino como ele está. Como você enxerga as ruas e
avenidas de nosso reino sem o photoshop?
- Uma
buraqueira infernal.
- Mais
que isso. É buraco e poeira em dias de sol. E ainda mais buracos e
lama em dias de chuva. Cenário perfeito para o rally! E com muito
mais emoção! Boa parte de nossas ruas estão em muito piores
condições que aquelas estradinhas cercadas de pirambeiras e
grotas que vimos nas últimas provas. E devem ficar ainda piores.
Os pilotos vão precisar de muita mais destreza para desviar dos
buracos, não afundar nas crateras ou fraturar a coluna com os
solavancos, e, ainda, saltar em nossas travessias elevadas para
alpinistas. Vai ser pura emoção!
- Você
está louca, rainha?! Isso não tem o menor cabimento. -
desespera-se o outro.
- Sem
contar com a comodidade dos espectadores que poderão assistir a
tudo de suas sacadas e janelas. No conforto de seu lar. Sem chuva e
frio para atrapalhar. Faremos o povinho de Mônaco morrer de
inveja! - entusiasma-se a monarca.
- Em
Mônaco tem prova de Fórmula 1! É completamente diferente!
- É
claro que eu sei as diferenças, seu molóide! - desdenha a rainha
- Os carros são bem menores. Lá o asfalto é um tapete. Os
impostos pagos pelo contribuinte são investidos e não subtraídos.
E a corte real não é uma cambada de inúteis, mamadores dos
recursos públicos, como aqui. Mas eles não tem uma rainha com o
meu encanto, nem a visão privilegiada e de longo alcance que eu
possuo. - conclui, erguendo o queixinho em orgulho.
- Mesmo
assim, rainha! Não tem como transferir o rally para o centro do
reino em tão curto tempo. - argumenta o marqueteiro, quase em
pânico.
- Você
é muito novinho, e ainda inexperiente no ramo da incompetência
administrativa, benzinho. Com um inverno bem chuvoso, nossa
conhecida ineficiência e morosidade em resolver problemas simples
e corriqueiros, como tapar buracos e repavimentar vias públicas,
em poucos meses todas as ruas do reino farão Dakar se corroer de
puro despeito. É só deixar tudo sob minhas ordens e nas mãos,
mais afeitas ao violão que ao trabalho, de nosso bobo das obras.
Até o próximo rally, não haverá mais asfalto entre os buracos.
Só haverá brita sobre pó de brita. Perfeito para as derrapagens!
Pura emoção e deleite para a torcida. Enfim, o rally que eu
idealizei na estrutura viária que eu negligenciei. Não é a cara
de meu reinado? - conclui a oportunista Poliana, como sempre
imbatível na arte de transformar a desgraça dos súditos em
marketing institucional e promoção pessoal.
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