sexta-feira, 18 de abril de 2014

O reino amigo dos buracos


Enquanto nossa viajada rainha perambulava pela Germânia em mais uma de suas expedições internacionais inúteis para os súditos, mas devidamente financiadas com dinheiro público, seu reino fora novamente alvo de notícias em rede nacional. Nenhum escândalo dessa vez, apenas um assunto cansativo e corriqueiro por essas bandas. Os bem distribuídos e conhecidos buracos no asfalto, marca registrada de Poliana e sua corte. O reino, ao que parecia, já figurava no ranking dos maiores índices de buracos no asfalto per capita do mundo. Perdia apenas para o Afeganistão e Iraque. Ao menos, é o que diziam as línguas maledicentes de Oposição e do povão ignorante em trafegabilidade e gestão pública.
E como não poderia deixar de ser em um reinado socialista, os buracos não eram privilégio de poucos, estavam espraiados de forma igualitária entre todos os moradores, do centro à periferia. Todo cidadão tinha assegurado o direito legítimo a seu próprio buraco solidário, inclusivo e cidadão. Sabe-se lá o que essas três palavras juntas queriam dizer, mas na doutrina socialista elas estavam presentes até mesmo na desgraça coletiva. O fato era, que os tais buracos cresciam e se perpetuavam há tanto tempo durante o reinado de nossa monarca, que já haviam se incorporado a paisagem do reino. Em alguns, era possível perceber o crescimento de árvores nativas, já bastante enraizadas. Tantos outros foram encampados pelos moradores no inovador programa de Poliana, “Adote um buraco” e foram transformado em locais de lazer e diversão. Nos subúrbios eram usados como piscininhas e piscinões no verão. Já na área central formavam dezenas de banheiras de ofurô. Verdadeiro deleite da plebe, carente de diversão. Até os companheiros do MSTT (Movimento Só Tramoia e Trago) ameaçavam invadir algumas dessas crateras que consideravam verdadeiros latifúndios improdutivos. Os súditos mais gaudérios, substituíram o churrasco na vala e, atualmente, assavam costelões e bois inteirinhos nos buracos, em finais de semana. Poliana já preparava os impressos para o lançamento da primeira Festa Nacional do Churrasco no Asfalto. Sucesso de público, tinha certeza. Os pesque e pague faziam a economia girar no reino, a medida que os buracos se encontravam em total e harmônica simbiose para formarem verdadeiros açudes na zona urbana. O bobo da agricultura até mandara distribuir alevinos nesses lugares tão pitorescos a fim de garantir o abastecimento de peixes para a Semana Santa. Pretendia, a ilustre corte real, transformar o reino em um inusitado centro de entretenimento e esportes aquáticos, com competições urbanas de jet skis e instalação de tobogãs. Para tanto, só precisavam contar com sua conhecida incompetência em tapar buracos. O problema, que afligia o bobo das obras, era que em algumas áreas os buracos já estavam brigando entre si em busca de espaço. Tinha buraco engolindo buraco e boeiro se sentindo humilhado por sua pouca profundidade. Se continuasse nesse ritmo, preocupava-se Santo Jorge, teria de marcar uma dúzia de reuniões para evitar que os tais buracos acabassem se revoltando e invadindo as calçadas ou as assembleias fantasiosas e pirotécnicas da OP.
Tanto o bobo das obras como todos os membros da seleta e numerosa corte de sua alteza sabiam que a intenção da rainha era perpetuar os buracos no asfalto por muitos meses ainda. Essa era a estratégia preferida de Poliana. Criar e propagar o caos até que os súditos se vissem a beira da loucura. Como fora feito com o fechamento das rótulas do reino. Criou-se um problema que não existia, para depois apresentar a solução óbvia, que não seria necessária se Poliana e sua trupe não tivessem enfiado o dedo e azedado o mingau. Mas a mesma tática continuava valendo para a companheirada. Quando a situação da buraqueira estiver próxima do colapso, Poliana e sua corte entrarão em cena e colocarão mãos a obra. Farão em poucos meses – meses próximos ao término de seu reinado, é claro – tudo o que não fizeram em tantos e longos anos. E venderão aos fieis súditos, com muito marketing, mídia e ilusão de ótica, que apenas a benevolente Vontade Política - a varinha de condão de Poliana - seria capaz de solucionar rapidamente um problema tão grave e urgente para seu povo. Os desesperados contribuintes se sentirão tão aliviados por poder, finalmente, trafegar nas ruas do reino com um mínimo de conforto e sem os desgastantes solavancos e veículos avariados, que até se esquecerão de que todo o prejuízo fora causado pela incompetência e inércia de sua majestade em investir o suado dinheiro dos impostos pagos pelos súditos na repavimentação das vias. E Poliana será, novamente, carregada nos braços como a rainha mãe dos tapa buracos. Quem não é capaz de seguir a lógica apurada da rainha, jamais terá condições de compreender o complexo ideal socialista de Poliana e sua turma.
Este buraco que vês, com metro medido. É a conta menor que pagaste em vida. É de bom tamanho, nem largo, nem fundo. É a parte que te cabe de todo imposto imundo. E ao asfalto “dado”, não se abre a boca. São as vias que querias ver corrigidas. É a utopia que querias distribuída.”- cantam em uníssono os engajados e socialistas companheiros da rainha.

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