Enquanto
nossa viajada rainha perambulava pela Germânia em mais uma de suas
expedições internacionais inúteis para os súditos, mas
devidamente financiadas com dinheiro público, seu reino fora
novamente alvo de notícias em rede nacional. Nenhum escândalo dessa
vez, apenas um assunto cansativo e corriqueiro por essas bandas. Os
bem distribuídos e conhecidos buracos no asfalto, marca registrada
de Poliana e sua corte. O reino, ao que parecia, já figurava no
ranking dos maiores índices de buracos no asfalto per capita do
mundo. Perdia apenas para o Afeganistão e Iraque. Ao menos, é o que
diziam as línguas maledicentes de Oposição e do povão ignorante
em trafegabilidade e gestão pública.
E
como não poderia deixar de ser em um reinado socialista, os buracos
não eram privilégio de poucos, estavam espraiados de forma
igualitária entre todos os moradores, do centro à periferia. Todo
cidadão tinha assegurado o direito legítimo a seu próprio buraco
solidário, inclusivo e cidadão. Sabe-se lá o que essas três
palavras juntas queriam dizer, mas na doutrina socialista elas
estavam presentes até mesmo na desgraça coletiva. O fato era, que
os tais buracos cresciam e se perpetuavam há tanto tempo durante o
reinado de nossa monarca, que já haviam se incorporado a paisagem do
reino. Em alguns, era possível perceber o crescimento de árvores
nativas, já bastante enraizadas. Tantos outros foram encampados
pelos moradores no inovador programa de Poliana, “Adote um buraco”
e foram transformado em locais de lazer e diversão. Nos subúrbios
eram usados como piscininhas e piscinões no verão. Já na área
central formavam dezenas de banheiras de ofurô. Verdadeiro deleite
da plebe, carente de diversão. Até os companheiros do MSTT
(Movimento Só Tramoia e Trago) ameaçavam invadir algumas dessas
crateras que consideravam verdadeiros latifúndios improdutivos. Os
súditos mais gaudérios, substituíram o churrasco na vala e,
atualmente, assavam costelões e bois inteirinhos nos buracos, em
finais de semana. Poliana já preparava os impressos para o
lançamento da primeira Festa Nacional do Churrasco no Asfalto.
Sucesso de público, tinha certeza. Os pesque e pague faziam a
economia girar no reino, a medida que os buracos se encontravam em
total e harmônica simbiose para formarem verdadeiros açudes na zona
urbana. O bobo da agricultura até mandara distribuir alevinos nesses
lugares tão pitorescos a fim de garantir o abastecimento de peixes
para a Semana Santa. Pretendia, a ilustre corte real, transformar o
reino em um inusitado centro de entretenimento e esportes aquáticos,
com competições urbanas de jet skis e instalação de
tobogãs. Para tanto, só precisavam contar com sua conhecida
incompetência em tapar buracos. O problema, que afligia o bobo das
obras, era que em algumas áreas os buracos já estavam brigando
entre si em busca de espaço. Tinha buraco engolindo buraco e boeiro
se sentindo humilhado por sua pouca profundidade. Se continuasse
nesse ritmo, preocupava-se Santo Jorge, teria de marcar uma dúzia de
reuniões para evitar que os tais buracos acabassem se revoltando e
invadindo as calçadas ou as assembleias fantasiosas e pirotécnicas
da OP.
Tanto
o bobo das obras como todos os membros da seleta e numerosa corte de
sua alteza sabiam que a intenção da rainha era perpetuar os buracos
no asfalto por muitos meses ainda. Essa era a estratégia preferida
de Poliana. Criar e propagar o caos até que os súditos se vissem a
beira da loucura. Como fora feito com o fechamento das rótulas do
reino. Criou-se um problema que não existia, para depois apresentar
a solução óbvia, que não seria necessária se Poliana e sua trupe
não tivessem enfiado o dedo e azedado o mingau. Mas a mesma tática
continuava valendo para a companheirada. Quando a situação da
buraqueira estiver próxima do colapso, Poliana e sua corte entrarão
em cena e colocarão mãos a obra. Farão em poucos meses – meses
próximos ao término de seu reinado, é claro – tudo o que não
fizeram em tantos e longos anos. E venderão aos fieis súditos, com
muito marketing, mídia e ilusão de ótica, que apenas a
benevolente Vontade Política
- a varinha de condão de Poliana - seria capaz de solucionar
rapidamente um problema tão grave e urgente para seu povo. Os
desesperados contribuintes se sentirão tão aliviados por poder,
finalmente, trafegar nas ruas do reino com um mínimo de conforto e
sem os desgastantes solavancos e veículos avariados, que até se
esquecerão de que todo o prejuízo fora causado pela incompetência
e inércia de sua majestade em investir o suado dinheiro dos impostos
pagos pelos súditos na repavimentação das vias. E Poliana será,
novamente, carregada nos braços como a rainha mãe dos tapa buracos.
Quem não é capaz de seguir a lógica apurada da rainha, jamais terá
condições de compreender o complexo ideal socialista de Poliana e
sua turma.
“Este
buraco que vês, com metro medido. É a conta menor que pagaste em
vida. É de bom tamanho, nem largo, nem fundo. É a parte que te cabe
de todo imposto imundo. E ao asfalto “dado”, não se abre a boca.
São as vias que querias ver corrigidas. É a utopia que querias
distribuída.”- cantam em uníssono
os engajados e socialistas companheiros da rainha.
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