sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O festival de egos inflados da corte da rainha

No reino de Poliana os coloridos balões do festival de balonismo da região enchiam o céu de beleza. Já na Câmara de Vendilhões alguns egos conseguiam se achar mais inflados que as belas alegorias da festa. Vendilhões do clã da rainha e da Irmandade do Fogo, base de sustentação real - quase surreal em tempos mais remotos - alfinetavam-se dentro e fora da plenária. Chegava a ser tragicômico ver seres ideologicamente tão distintos, mesmo para aqueles que, há muito, extinguiram as ideologias em prol de bons carguinhos, se digladiando nas surdinas, para em seguida defenderem de mãos dadas, como humildes servos de uma seita, todas as propostas da rainha.

Cômicos mesmo eram os discursos. Ah, os discursos! Quanta perfeição semântica na total ausência de coerência. Vê-los, assim, empertigados na tribuna, usando os mesmos surrados conceitos, que ao que parecia, sequer conheciam os significados, causava sempre certa desesperança melancólica naqueles que ainda tentavam preservar um pouco de cérebro e lucidez em meio ao vácuo existencial prevalente. Assistir um ilustre, e até então destemido representante sindical, erguer a voz contra a terceirização do trabalho. Bradar com a eloqüência dos devotados a uma boa e justa causa, combatendo a precarização da mão de obra (obra de governos neoliberais passados que detonavam os direitos dos trabalhadores, é claro), afirmando com a convicção própria dos idealistas natos, que terceirizar é negar os direitos trabalhistas duramente conquistados e submeter os trabalhadores a regimes escravocratas, emociona até o mais empedernido reacionário classe média e elitista. Pena, que ao baixar das cortinas, e no apagar dos holofotes, o mesmo sindicalista defensor dos direitos trabalhistas e crítico severo do trabalho semi-escravo de um capitalismo neoliberal, defenda, com a mesma voracidade e “coerência”, a importação terceirizada de mão de obra quase escrava de médicos de uma fantasiosa ilha caribenha, onde com certeza, qualquer quebra de contrato se negocia no paredão. A escravidão, assim como as convicções, só depende de que lado da chibata, ou do poder, se está. Assim nos ensinam os ilustres vendilhões dos trabalhadores e do povo, em qualquer reino ou arquipélago, neoliberal ou socialista. Onde se compra ideais, também se vendem consciências. A preços módicos e irrisórios. Por cestas básicas, sabonete, papel higiênico, charutos ou carguinhos. Leiloa-se o conteúdo e a substância, mas sem perder o discurso jamais.

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