sábado, 19 de janeiro de 2013

A Ventriloca Poliana


Uma sudorética e esbaforida Poliana adentra na torre, jogando-se pesadamente no divã. No seu rastro o velho séquito de companheiros e vassalos, carregados de bandeiras, faixas e adereços.
- Meus sais! – ordena a degolada, mas sempre imperativa Poliana - Quero os meus sais! E uma bacia de água fria para meus pezinhos. Estou com os dedinhos em carne  viva. Maldita hora que fui aceitar essa missão ingrata. Onde é que eu estava com a cabeça? De esplendorosa rainha passei a dama de companhia do songa-monga do Golesminha. Nunca achei que eu chegasse a descer tanto na vida. - resmunga a rainha deposta, massageando os pés doloridos pelas andanças no reino.
- Não reclama Poliana, não pode ter sido tão ruim assim. – contemporiza o Espelho Mágico.
- Ruim?! É um calvário, isso sim. O Golesminha não engrena, não adianta. É tão vaselina que escorre por entre o povo e se esparrama no asfalto.  Por falar em asfalto, de quem foi a ideia de colocar todo aquele piche e pó de brita nas ruas? Olhem só os meus sapatos?! Uns Scarpin salmão, novinhos em folha! Agora parecem umas plataformas com tanto piche e brita, grudados. E o meu terninho, então? Todo empoeirado. Eu tô a legítima rameira de beira de asfalto. Que decadência meu Deus! Logo eu, sempre tão elegante e glamourosa. – lamuria-se a antiga rainha, com as os olhinhos de biscuit borrados.
- É um sacrifício necessário, gloriosa Poliana. Só seu carisma pode neutralizar a antipatia nata de nossa estrela escolhida para lhe substituir no trono, o companheiro Golesminha. – adula o Espelho Mágico.
- Estrela coisa nenhuma, o sujeito é um meteoro em rota de colisão com o solo. Alias, do jeito que andam as ruas do reino deve ter havido alguma chuva de meteoros nos últimos dias. Nunca vi tantos buracos! O que vocês fizeram na minha ausência? Não faz nem vinte dias que eu fui deposta e vocês já deixaram o reino uma buraqueira e imundice só. Nos tempos da rainha Poliana as coisas eram bem diferentes! Eu disse que não deviam ter dado a coroa, mesmo que provisoriamente, para aquele fedelho inexperiente do nosso clã. No mínimo ele deve ficar jogando videogame enquanto o reino vem abaixo e os buracos tomam conta das ruas. – acrescenta com o queixinho empinado do mais legítimo despeito - Tem buraco até nas lombadas! Tem buraco dentro de buraco! Pobre dos contribuintes. Vocês sabem quanto nós, pobre mortais, pagamos de impostos?
- Os buracos que você conheceu hoje Poliana, estão aí há anos. – informa Líquen, menos amorfo e mais enfezado que de costume - Foram regados e cultivados com afinco durante todo o seu democrático e participativo reinado, querida. Você só não os viu antes porque na sua redoma blindada tinha carpete e quando você visitava a periferia nós lhe carregávamos no colo. Bem vinda a Mundo Real companheira! – arremata o companheiro de clã.
- Ai que saudades de Horário Eleitoral! - suspira Poliana nostálgica - Até isso Justiça me tirou só para me castigar. Megera, intransigente e asquerosa! E maldito o idiota estúpido que inventou esse tal Estado Democrático de Direito. Deviam colocar esse cretino na cadeia, isso sim.
- Boa idéia. Nós estamos trabalhando nisso também, mas é um pouco complexo e precisamos de mais tempo. Primeiro temos de amordaçar Imprensa Livre, depois acorrentar Democracia e aí sim, aniquilar o Estado Democrático de Direito. Nosso clã espera alcançar essa meta nos próximos anos, é só ter paciência. – afirma Líquen, com a convicção dos que circulam há anos entre os ratos mais ardilosos do grande clã, na sede do poder central. - Enquanto esse dia não chega e Democracia ainda sobrevive, temos de dar um jeito de fazer o companheiro Golesminha emplacar. Como foram as peregrinações de vocês hoje? Conseguiram arrebanhar muita gente?
- Que nada. O homem é sofrível, não tem objetivo. Não tem visão de rei. Vive preso no passado, nos tempos daqueles nossos discursinhos enfadonhos de proletário explorado. Falta foco. Foco! Não se concentra. Cada vez que passamos por uma grande empresa ou mesmo um botequim, enfim, qualquer lugar que faça a economia do reino girar, o homem tem um ataque. Corre logo para primeira fechadura que encontra e fica na espreita.
- Fechadura? Vai dizer que o Golesminha sofre de voyerismo? Eu sempre achei ele meio mosca morta...
- Que voyerismo que nada. Ele sofre é de companheirismo, isso sim. Adora colocar golesminha nas fechaduras para impedir trabalhador de trabalhar. Você sabe que ele tem aquele velho cacoete de nosso clã de achar que o lucro é o oitavo pecado capital. Desde que o lucro não seja nosso, bem entendido.
- Precisamos disfarçar essa tendência dele mais para o Capital que para o Capitalismo. Não podemos assustar o empresariado em uma hora dessas. – preocupa-se Líquen
- É verdade. O reino já anda uma decadência. Já pensou se quem trabalha, investe por aqui e faz a economia crescer resolver ir em bora? Vai sobrar só a gente. Daí quem vai nos sustentar? – acrescenta um militante da FarsaSindical, assustado.
- Temos que dar um jeito no Golesminha, ele precisa endireitar, literalmente, sua postura. Adotar um discurso mais moderado e definitivamente, nada de tumulto em porta de empresa. - comanda Líquen, decidido.
- Impossível. Ele é um autêntico membro do nosso clã: completamente alienado. Só tem meia dúzia de palavras no seu repertório, que ele repete há décadas: exclusão, opressão, exploração, reacionário, elites dominantes, donos do poder, etc... Não tem como ele mudar o dialeto ortodoxo em apenas poucas semanas. Desistam. – afirma Poliana, estirada em seu divã, demonstrando pouco caso com o dilema do grupo.
- Então eu só vejo uma alternativa. – anuncia o sempre articulador, Líquen – Você, novamente, será nossa salvadora, adorada Poliana. Sim! Isso, mesmo. Nem adianta questionar. Seu futuro e a segurança de que nossas travessuras no poder continuarão acobertadas, dependem da ascensão do Golesminha ao trono.
- Eu faço o que posso, Líquen! Mas apesar de ser praticamente uma popstar, eu ainda não faço milagres! – indigna-se a antiga monarca.
- Nós não vamos precisar de milagre. A resposta esta nas escrituras de nosso clã. – responde Líquen, o aprendiz de mensaleiro – Vamos usar a velha arma em que nosso companheiro Golesminha é mestre.
- Uma foice? Eu não vou muito com a cara, nem com a franja dele, mas também não precisa exagerar Líquen! De degolada já basta eu em nosso clã. – alarma-se Poliana.
- Nada de Foice. O Golesminha sempre foi mais sorrateiro. Vamos usar Super Bonder! Na boca dele. De agora em diante, você Poliana, fala por ele. Ele não abre mais a boca. Só balança a cabeça concordando. Com sua lábia, seu carisma e o Golesminha de boca colada o negócio vai deslanchar!
- Ha, não! O que mais falta me acontecer? De monarca dinâmica e invejada, virei ventriloco do pegajoso Golesminha. Tudo por causa daquelas porcarias de impressos. É o meu fim! Tragam os meus sais! Meus sais! – teatraliza Poliana sem nunca perder a majestade.



Um comentário:

  1. Anacleto na cabeça, pesquisas favoráveis, pois a rejeição do opositor é grande, além do mais o povo lembra como ficou Erechim no fim do mandato do mesmo. Chamam o povo de burro por votar no Pt, mas engraçado o Mantovani ganhou em grandes 4 urnas em toda cidade,sendo que no centro onde há pessoas mais esclarecidas Polis perdeu em somente uma urna no mais ganhou em todas e muito bem por sinal. Agora lhe digo Schimidt no centro tem rejeição total praticamente é só ver na última em que ele foi candidato não fez mil votos, nos bairros vai dividir votos com o Anacleto então é tchau, além do mais que têm partido que se vendeu por uma secretária por não ter nome para colocar, sendo que o nome anterior só não ficou em terceiro por 600 votos como falou Rodrigo Finardi,pois quase perdeu para os brancos e nulos. Espera e confira quem irá vencer.

    ResponderExcluir

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.