“Senhor presidente, pelo meu país,
meu voto é sim!”. Desta forma,
sorridente, proferiu seu voto, o deputado Tiririca, sob aplausos efusivos dos
colegas parlamentares. Voto bastante comemorado por ser esta a primeira vez, em
seis anos, que o parlamentar fazia uso do microfone na plenária da câmara.
A maioria dos brasileiros que
acompanhava a transmissão pela televisão, tenho certeza, sorriu ao assistir o
deputado votar. Tiririca é dessas pessoas que faz a gente sorrir, mesmo quando
não está em seu papel de palhaço. Tiririca é a representação de boa parte do
povo brasileiro. Simples, origem humilde, pouco estudo, nordestino. É
carismático. Tanto que conseguiu ser votado por milhões de eleitores. Voto de
protesto ou não, Tiririca é o espelho de nossa representação na câmara. A votação,
acompanhada ao vivo por surpreendente audiência, colocara pela primeira vez os
brasileiros frente a frente com seus representantes. E, para muitos, fora um
choque de realidade vê-los assim, em seu habitat, tão reais e tão medíocres. Se
era sabido que a integridade moral de nossos parlamentares era duvidosa, agora,
sabe-se também que seu nível intelectual é sofrível. E o nível de nossos
representantes reflete o nível de nossas escolhas. O nosso nível, portanto.
Em poucos segundos, proferindo seus
votos, foi possível perceber a qualidade, no máximo mediana, de grande parte de
nossa câmara. E, gostemos ou não, restou evidente o que levou um homem como
Eduardo Cunha a ocupar o cargo máximo da casa do povo: sua superioridade frente
aos seus pares. Inteligente. Conhecedor e estudioso dedicado das regras da
casa. Ironia fina. Sarcasmo comedido. Frieza quase irritante. Sem sombra de
dúvidas, um parlamentar acima da média do nosso parlamento. E atolado em escândalos
de corrupção e em desvios de milhões, também. Como tantos outros naquela casa.
Não há como exigir mais de nossos
políticos, quando a preocupação maior de boa parte do povo que os escolhe é
meramente sobreviver. Um povo que se contenta com reles afagos ou pequenas
esmolas em período eleitoral não elegerá grandes estadistas e brilhantes
pensadores, salvo por algum improvável acidente de percurso.
Temos Renan Calheiros e Fernando
Collor. Temos Eduardo Cunha e Paulo Maluf. E temos Tiririca. Dentre nossos
conhecidos corruptos contumazes e reincidentes, Tiririca, o palhaço, fora a
mais dura traição à Luiz Inácio Lula da Silva. O “não” do homem simples e
humilde, retrato de um povo, ao ex-presidente, ilustra a derrocada final de
Lula, o retirante nordestino, proletário e pai dos pobres. O mito Lula, hoje, não
ilude, compra ou convence mais nem Tiririca, o palhaço. Tiririca, o palhaço, disse não à Lula, e “pelo
seu povo, disse sim.” Não é, ainda, o fim de Lula, mas este nunca esteve tão próximo
do fim. Triste e nostálgico fim de um mito. Triste realidade de um país,
representado por corruptos contumazes, míticos embusteiros e carismáticos
palhaços. Um país de palhaços, é o que somos. O país dos embustes populistas, dos corruptos de sempre, e dos Tiriricas.
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