Quanta
falta lhe fazia um pouco mais de estudo, pensava o velho enquanto
folheava os jornais. Há dias assistia aos noticiários e lia cada
periódico em busca de informações. Mesmo tendo estudado apenas até
o quarto livro, sempre orgulhara-se de se manter bem informado, lendo
diariamente todos os jornais e revistas aos quais tivesse acesso. Mas
poucas vezes, em todas essas décadas de vida, sentira que o estudo
lhe fazia tamanha falta quanto nessas últimas semanas. Por mais que
tentasse, e tentava, não conseguia entender o rumoroso caso da
compra da tal refinaria texana de Pasadena pela nossa Petrobras. Nada
fazia sentido, a esse velho incrédulo. Nenhum sentido de ética,
aritmética ou lógica de mercado. Pagar pela metade de uma refinaria
quase sucateada, oito vezes o que ela valia já era por si só
ultrajante. Ser obrigada, por cláusulas contratuais - que a esse
idoso senil tinham cheiro de armação de quadrilheiros - a comprar a
outra metade por mais do que o dobro do valor já pago pela primeira
parte, parecia conto da carochinha. Ou crime de lesa-pátria. Não
conseguia acreditar que algo assim tivesse realmente ocorrido na
maior empresa pública de seu país. Por isso lia e relia as notícias
em busca de que alguém, algum diretor, conselheiro da estatal ou a
própria Presidente da República viessem a público dizer que nada
disso era verdade. Que era só piada de péssimo gosto. Melhor
começar a acreditar em contos da carochinha, constata o velho
tristonho.
O
que se ouvia na mídia, daqueles que deveriam defender os interesses
da empresa e do povo? “Que não sabiam de todos os detalhes do
contrato”. “Que “talvez” não tenha sido realmente um negócio
muito lucrativo para a empresa brasileira”. Ou que, “a oposição
está querendo tirar proveito da situação com fins eleitoreiros”.
Ora! Indigna-se o octogenário. Agem todos, sem distinção, como
vermes dissimulados. Gente sem cerne ou coluna vertebral. Tivessem
eles o mínimo de vergonha, sairiam hoje pela porta dos fundos, como
deveriam ter saído há anos quando toda essa negociata absurda foi
firmada. É o o que aconteceria em qualquer botequim que prezasse seu
nome e sua clientela. Ou em qualquer país digno de respeito. No
entanto, continuaram por anos acobertando-se e se locupletando com as
verbas da estatal, certos de que nada dessa imundície viria a
público. Sugaram, eles, e todos os outros incontáveis parasitas e
energúmenos de indicação política, cada gota de recurso da
Petrobras. Transformaram durante a última década, nossa velha e
adorada Petrobras, em uma empresa submergente, em franca decadência,
que vale hoje menos da metade do que valia há poucos anos. Saqueada
pela incompetência e pelo aparelhamento político daqueles que só
visam o poder e os interesses pessoais. O que era de se esperar de
nossa presidente democraticamente eleita por seu povo, fosse ela uma
estadista? Que pedisse desculpas a Nação. Desculpas por ter sido
inconsequente e omissa quando conselheira da empresa, e ter se posto
como coautora de um negócio no mínimo desastroso. Mas mais do que
isso, como atual presidente, deveria pedir desculpas a todo povo
brasileiro por ter colocado durante todo seu mandato, sempre os
interesses políticos de seus aliados a frente dos interesses do
país. Desculpas por ter optado por um projeto de poder ao invés de
um programa de governo que atendesse as necessidades de seu povo.
Desculpas por ter vendido sua imagem de revolucionária que pegou em
armas para defender a democracia e o Brasil, e ao assumir o poder
ter se prestado apenas ao indigno papel de pegar em canetas para
indicar companheiros e asseclas para se beneficiarem em conluio dos
recursos públicos. Desculpas por ter nomeado os parasitas que têm
dilapidado, nesses anos, todo o vasto patrimônio que nunca foi da
Petrobras, mas sim de todos nós brasileiros. Deveria sentir
vergonha! Vergonha de usar, como usou e abusou seu antecessor, de
nossa estatal com fins meramente pessoais e eleitoreiros. Mas
vergonha, constata o velho desiludido, é característica dos que tem
cerne. Infelizmente, nesse meio de sanguessugas do poder, todos eles,
sem distinção de cor, partido ou facção, valem menos do que
vermes. Pois um verme, nasce verme. Esses que aí estão, tiveram
direito de escolha e, ainda assim, escolheram rastejar. Conclui o
velho, abandonando de vez os jornais.