Uma descansada Poliana encontrava-se atirada em seu divã cor
de rosa, saboreando dezenas de seus adoráveis bombons de amarula. Paz era o que
sua alteza precisava. Um feriado longe, bem longe, de seu séquito de pajens,
sempre a lhe bajular. E principalmente, algumas horas distante dos discursos
cansativos e inconsistentes de seus companheiros de clã. Poliana não agüentava
mais a companheirada. Quanta coisa tinha de engolir para se manter no poder.
Horas e horas de reuniões improdutivas. Meia dúzia de frases feitas, repetidas
cansativamente, e feitas para não levar a nada.
Mas hoje, Poliana estava sozinha, entorpecida de bombons, e
podia esquecer toda a estupidez que cercava a sofrida monarca.
- Tu, mujer, não
devia ser tão dura com seus guerrilheiros, companheira Poliana. Não perca a
ternura jamais! – uma voz vinda do centro da redoma, assusta a rainha.
- Che?! – constata a monarca ao reconhecer a surrada boina,
ícone da juventude idealista e objeto de consumo capitalista em camisetas
vendidas pelo mundo a fora. – Não é possível! Toda vez que quero me embriagar
sozinha, aparece algum fantasma para me assombrar. Pode voltar de onde veio! Hoje
eu quero sossego!
- Sentir as injustiças cometidas contra qualquer pessoa, em
qualquer parte do mundo, é a mais bela qualidade de um revolucionário. E yo sigo siendo un revulocinario! –
acrescenta Che.
- Ah tá! Então vai assombrar os Castro, lá na ilha, cada vez
que eles perseguem e mandam para o paredón
os coitados que se revoltam contra a ditadura que tu ajudou a implantar, e me deixa em paz, por favor! Volta pra tua
cova.
- A farda, alteza, ou o manto real, modela o corpo e atrofia
mente! – afirma o homem.
- O poder ajusta os interesses, destrói as ideologias e
modela as conveniências! E a farda só cobre e encobre tudo isso. – retruca
Poliana.
- Prefiro morrer de pé, a viver sempre ajoelhado! – ergue-se
a ilustre figura, imponente.
- Você preferia isso sim, viver eternamente. Como teu
companheiro Fidel, ao que parece. E viver muito bem sentado e servido, com seu
povo ajoelhado, calado e submisso aos seus pés.
- O importante não é justificar o erro, mas impedir que ele
se repita! – irrita-se o revolucionário.
- O importante é errar em nome de nossa causa, e impedir que
o povo reconheça o erro e se revolte contra ele. - replica a impertinente Poliana.
- Lutam melhor os que têm belos sonhos. – acrescenta Che,
acendendo um charuto.
- Sonham melhor aqueles que não têm nada para fazer, e lutam
melhor os que têm maioria no parlamento. – constata a monarca, desembrulhando
mais um bobom.
- A verdadeira capacidade de um revolucionário se mede por
sua habilidade de encontrar táticas revolucionárias adequadas a cada mudança de
situação! – afirma, batendo as cinzas no chão.
- A verdadeira revolução que implantamos é medida pela
capacidade de comprar aliados, calar os oposicionistas, iludir as massas, e não
deixarmos jamais de ser situação. – continua Poliana, lambendo os dedos.
- Se o presente é de luta, o futuro nos pertence! – brada o
revolucionário.
- Se o presente é de nossas farrinhas com o dinheiro público,
o futuro é trágico para quem nos sustenta. Problema deles, os otários
contribuintes. – continua a rainha, languidamente.
- Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais completos
e somos mais completos porque somos mais livres! – continua Che, batendo orgulhoso
no peito.
- São uma completa fraude, isso sim! É só chegar ao poder e
experimentar todas as vantagens que o odioso dinheiro capitalista proporciona
que vocês esquecem todo ideal de liberdade e fazem tudo para manter o povo
cativo aos interesses de vocês, os sócio-imperialistas!
É preciso endurecer para não perder o poder jamais! – tripudia sua alteza.
- As amizades que se fundam a partir do interesse, por
interesse se terminam!
- Toda a aliança se faz pelos interesses, e em prol dos interesses
se perpetuam.
- Basta! Não vou mais ficar aqui discutindo com você!
Mulherzinha irritante! – enerva-se o outro, ajustando a boina na cabeça, e
marchando firme para a saída. - Não me esperem para a colheita, estarei sempre a
semear. Adiós! – despede-se antes de
desaparecer na fumaça.
- Vai semear uma ervinha, sujeitinho arrogante! – grita Poliana,
já enrolando a língua, enfiando outro bombom na boca e se afundando ainda mais
nas almofadas de seu divã. – Numa coisa é preciso ser justa, pensa a embriagada
rainha, o homem é ótimo nos slogans. Imagine se ele tivesse todo o marketing e mídia
a seu dispor ha 50 anos! O mundo todo seria
uma ilha castrista! – surpreende-se Poliana – Melhor ficarem mesmo, só nas
camisetas dos jovens e dos velhos hippies saudosistas. - conclui a sempre
pragmática, e nada idealista rainha, antes de adormecer no divã.
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