domingo, 13 de outubro de 2013

A assombrada Poliana

Uma descansada Poliana encontrava-se atirada em seu divã cor de rosa, saboreando dezenas de seus adoráveis bombons de amarula. Paz era o que sua alteza precisava. Um feriado longe, bem longe, de seu séquito de pajens, sempre a lhe bajular. E principalmente, algumas horas distante dos discursos cansativos e inconsistentes de seus companheiros de clã. Poliana não agüentava mais a companheirada. Quanta coisa tinha de engolir para se manter no poder. Horas e horas de reuniões improdutivas. Meia dúzia de frases feitas, repetidas cansativamente, e feitas para não levar a nada.
Mas hoje, Poliana estava sozinha, entorpecida de bombons, e podia esquecer toda a estupidez que cercava a sofrida monarca.
- Tu, mujer, não devia ser tão dura com seus guerrilheiros, companheira Poliana. Não perca a ternura jamais! – uma voz vinda do centro da redoma, assusta a rainha.
- Che?! – constata a monarca ao reconhecer a surrada boina, ícone da juventude idealista e objeto de consumo capitalista em camisetas vendidas pelo mundo a fora. – Não é possível! Toda vez que quero me embriagar sozinha, aparece algum fantasma para me assombrar. Pode voltar de onde veio! Hoje eu quero sossego!
- Sentir as injustiças cometidas contra qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, é a mais bela qualidade de um revolucionário. E yo sigo siendo un revulocinario! – acrescenta Che.
- Ah tá! Então vai assombrar os Castro, lá na ilha, cada vez que eles perseguem e mandam para o paredón os coitados que se revoltam contra a ditadura que tu ajudou a implantar, e me deixa em paz, por favor! Volta pra tua cova.
- A farda, alteza, ou o manto real, modela o corpo e atrofia mente! – afirma o homem.
- O poder ajusta os interesses, destrói as ideologias e modela as conveniências! E a farda só cobre e encobre tudo isso. – retruca Poliana.
- Prefiro morrer de pé, a viver sempre ajoelhado! – ergue-se a ilustre figura, imponente.
- Você preferia isso sim, viver eternamente. Como teu companheiro Fidel, ao que parece. E viver muito bem sentado e servido, com seu povo ajoelhado, calado e submisso aos seus pés.
- O importante não é justificar o erro, mas impedir que ele se repita! – irrita-se o revolucionário.
- O importante é errar em nome de nossa causa, e impedir que o povo reconheça o erro e se revolte contra ele. - replica a impertinente Poliana.
- Lutam melhor os que têm belos sonhos. – acrescenta Che, acendendo um charuto.
- Sonham melhor aqueles que não têm nada para fazer, e lutam melhor os que têm maioria no parlamento. – constata a monarca, desembrulhando mais um bobom.
- A verdadeira capacidade de um revolucionário se mede por sua habilidade de encontrar táticas revolucionárias adequadas a cada mudança de situação! – afirma, batendo as cinzas no chão.
- A verdadeira revolução que implantamos é medida pela capacidade de comprar aliados, calar os oposicionistas, iludir as massas, e não deixarmos jamais de ser situação. – continua Poliana, lambendo os dedos.
- Se o presente é de luta, o futuro nos pertence! – brada o revolucionário.
- Se o presente é de nossas farrinhas com o dinheiro público, o futuro é trágico para quem nos sustenta. Problema deles, os otários contribuintes. – continua a rainha, languidamente.
- Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais completos e somos mais completos porque somos mais livres! – continua Che, batendo orgulhoso no peito.
- São uma completa fraude, isso sim! É só chegar ao poder e experimentar todas as vantagens que o odioso dinheiro capitalista proporciona que vocês esquecem todo ideal de liberdade e fazem tudo para manter o povo cativo aos interesses de vocês, os sócio-imperialistas! É preciso endurecer para não perder o poder jamais! – tripudia sua alteza.
- As amizades que se fundam a partir do interesse, por interesse se terminam!
- Toda a aliança se faz pelos interesses, e em prol dos interesses se perpetuam.
- Basta! Não vou mais ficar aqui discutindo com você! Mulherzinha irritante! – enerva-se o outro, ajustando a boina na cabeça, e marchando firme para a saída. - Não me esperem para a colheita, estarei sempre a semear. Adiós! – despede-se antes de desaparecer na fumaça.
- Vai semear uma ervinha, sujeitinho arrogante! – grita Poliana, já enrolando a língua, enfiando outro bombom na boca e se afundando ainda mais nas almofadas de seu divã. – Numa coisa é preciso ser justa, pensa a embriagada rainha, o homem é ótimo nos slogans. Imagine se ele tivesse todo o marketing e mídia a seu dispor ha 50 anos!  O mundo todo seria uma ilha castrista! – surpreende-se Poliana – Melhor ficarem mesmo, só nas camisetas dos jovens e dos velhos hippies saudosistas. - conclui a sempre pragmática, e nada idealista rainha, antes de adormecer no divã.





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