A nova
edição de seu glorioso reinado ainda nem se iniciara e Poliana já se via pequena
frente a tantos egos inflados e tanta sede de poder. Poliana bem sabia que seus
bobos eram uns mortos de fome gananciosos, mas se as coisas continuassem nesse
ritmo comeriam uns aos outros em curto espaço de tempo. Era preciso preservar o
precioso fígado real. Poliana precisava ter cuidado. Não podia dar as costas a
ninguém. Nunca se sabia de onde viria a primeira punhalada nas costas. Ai que
saudades sentia dos famosos chutes nas canelas dados por Oposição. Comparadas
as estocadas traiçoeiras de seus companheiros e aliados, Oposição fora quase um
anjo de candura. A própria rainha, para garantir seu lugar no trono, fizera
tantas falsas promessas de apoio e carguinhos, tantas articulações desprovidas
de solidez e concretude, que agora encontrava-se baratinada para juntar tantas
pontas soltas nessa enorme teia de interesses e interesseiros.
Mal sabia
ela, a quase sempre alienada rainha, que a maior disputa hoje em seu reino
seria por sua sucessão. Poliana mal conquistara o Troféu Popularidade,
conseguindo manter a coroa em sua cabeça, e seus aliados já se engalfinhavam em
quase sangrenta batalha para ver quem ficaria com o trono depois que a
carismática rainha se aposentasse. A firme e sólida aliança que prometia dar
sustentação a sua majestade nos próximos anos de reinado dava mostras de
tornar-se uma perigosa argola em seu focinho. Ou uma incomoda coleira em seu
delicado pescoço. Conseguirá nossa destemida e corajosa rainha driblar os
grilhões e amarras impostos por seus parceiros e confrades? De onde virá o
primeiro golpe que poderá desestabilizar sua alteza? Será um tiro certeiro e
frontal dado pela impiedosa Justiça? Ou um tiro vindo do escuro, de trás de
algum arbusto, de algum camuflado aliado real? Quem sabe alguma armadilha mais
ardilosa, arquitetada por poucas cabeças matreiras dentro do nobre e rico seio
de seu clã? De uma coisa Poliana tinha certeza, precisaria bem mais do que
carisma e popularidade para escapar ilesa dessa vez. Com muito jogo de cintura,
centenas de carguinhos, milhares de recursos públicos e muita lábia e
articulação conseguiria sair desse jogo com apenas alguns arranhões. “Apenas por precaução, melhor dormir de
armadura de agora em diante.” – pensa a eternamente confiante e otimista
Poliana.
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