Recostada
nas almofadas de seu trono Poliana apreciava a paisagem, um tanto desfigurada
pela blindagem espessa de sua redoma de vidro fumê, de seu magnífico e
progressista reino. Seu império era um imenso canteiro de obras, disso nem
Oposição poderia tecer comentários maldosos - pensa a magnânima, satisfeita com
seus feitos. Ninguém, em toda a história dessa terra, trocara tantas vezes o
gramado e as plantas dos velhos canteiros da avenida. Não em tão pouco tempo,
ao menos. A isso se chamava coragem de mudar! Só seus invejosos críticos não
davam o braço a torcer. Problema deles - desdenha a rainha muito bem acomodada
no trono – vão ter de me engolir por muitos e longos anos.
Poliana por
vezes se surpreendia como fora fácil ser rainha. Vendera sonhos e promessas por
anos e em poucas semanas começara raras obras e dezenas de perfumarias que
cegariam seu humilde e ingênuo povo por mais alguns meses. Era o que bastava,
afinal. Poliana adorava a logística de seu reinado. Soubesse ela que seria assim
tão simples, teria se lançado antes nessa empreitada gloriosa.
Olhando
mais detidamente para fora, notara a falta de seus magníficos e coloridos
cartazzes, uma marca registrada de seu reinado. Foram bons e lucrativos
enquanto duraram. Algumas coisas se perderam nesse caminho cheio de pedras e
buracos éticos. Nada que Poliana não pudesse substituir com um simples estalar
de dedos. Tivera até que abandonar velhos e úteis amigos. Sentia falta dos
queridos Irmãos Grafite. Fazer o que? Até as amizades se tornam obsoletas no
mundo do poder e das barganhas. Seus antigos amigos não tinham mais espaço na
sua corte de bobos e puxa-sacos. Os Grafite foram-lhe convenientes por muito
tempo, agora já não tinham mais valor de mercado. Poliana conquistara outros
amigos e novos financiadores. Sentimentalismo barato e lealdade sem lucro nunca
foram o forte da rainha. A poderosa Poliana tinha hoje uma fila de
interesseiros prontos a se curvar a sua majestade em troca de gordos favores. Trocara
o ramo das falsas impressões por outro mais ecológico e agro sustentável. Com
um pouco de óleo e farelo, Poliana faria um bom e suculento pirão. Quero ver
Oposição engolindo mais esse espesso e indigesto prato – pensa a rainha,
orgulhosa de suas novas parcerias. Com sua visão empreendedora Poliana já
costurara mais uma sociedade de interesse privado regado a recursos públicos: a
Organização do Lucro Fácil e Agro Rentável (OLFAR), mais um empreendimento das
Organizações Poliana. No fim da história, quem pagará a conta será seu velho,
fiel e crédulo sócio: o contribuinte. “Que maravilha era esse inebriante mundo
do poder, onde uma mão lava a outra e as duas juntas escondem toda a sujeira.” –
suspira Poliana do alto de sua torre.
Uma hora o castelo tem que desmoronar!
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