sábado, 21 de julho de 2012

Os lucrativos empreendimentos da rainha


Recostada nas almofadas de seu trono Poliana apreciava a paisagem, um tanto desfigurada pela blindagem espessa de sua redoma de vidro fumê, de seu magnífico e progressista reino. Seu império era um imenso canteiro de obras, disso nem Oposição poderia tecer comentários maldosos - pensa a magnânima, satisfeita com seus feitos. Ninguém, em toda a história dessa terra, trocara tantas vezes o gramado e as plantas dos velhos canteiros da avenida. Não em tão pouco tempo, ao menos. A isso se chamava coragem de mudar! Só seus invejosos críticos não davam o braço a torcer. Problema deles - desdenha a rainha muito bem acomodada no trono – vão ter de me engolir por muitos e longos anos.
Poliana por vezes se surpreendia como fora fácil ser rainha. Vendera sonhos e promessas por anos e em poucas semanas começara raras obras e dezenas de perfumarias que cegariam seu humilde e ingênuo povo por mais alguns meses. Era o que bastava, afinal. Poliana adorava a logística de seu reinado. Soubesse ela que seria assim tão simples, teria se lançado antes nessa empreitada gloriosa.
Olhando mais detidamente para fora, notara a falta de seus magníficos e coloridos cartazzes, uma marca registrada de seu reinado. Foram bons e lucrativos enquanto duraram. Algumas coisas se perderam nesse caminho cheio de pedras e buracos éticos. Nada que Poliana não pudesse substituir com um simples estalar de dedos. Tivera até que abandonar velhos e úteis amigos. Sentia falta dos queridos Irmãos Grafite. Fazer o que? Até as amizades se tornam obsoletas no mundo do poder e das barganhas. Seus antigos amigos não tinham mais espaço na sua corte de bobos e puxa-sacos. Os Grafite foram-lhe convenientes por muito tempo, agora já não tinham mais valor de mercado. Poliana conquistara outros amigos e novos financiadores. Sentimentalismo barato e lealdade sem lucro nunca foram o forte da rainha. A poderosa Poliana tinha hoje uma fila de interesseiros prontos a se curvar a sua majestade em troca de gordos favores. Trocara o ramo das falsas impressões por outro mais ecológico e agro sustentável. Com um pouco de óleo e farelo, Poliana faria um bom e suculento pirão. Quero ver Oposição engolindo mais esse espesso e indigesto prato – pensa a rainha, orgulhosa de suas novas parcerias. Com sua visão empreendedora Poliana já costurara mais uma sociedade de interesse privado regado a recursos públicos: a Organização do Lucro Fácil e Agro Rentável (OLFAR), mais um empreendimento das Organizações Poliana. No fim da história, quem pagará a conta será seu velho, fiel e crédulo sócio: o contribuinte. “Que maravilha era esse inebriante mundo do poder, onde uma mão lava a outra e as duas juntas escondem toda a sujeira.” – suspira Poliana do alto de sua torre.

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