Poliana, pensativa, arrumava
cuidadosamente as malas para a viagem que se avizinhava. Não tinha muitas coisas
para levar, afinal. Quase tudo que pretendia se perdera no caminho. Os itens
mais exuberantes de sua última viagem a Horário Eleitoral, mostraram ser o que
seus céticos críticos já alertavam: apenas ilusões pouco viáveis ou meras promessas
ocas. Para Poliana essa nova turnê a Horário Eleitoral seria uma excursão de
férias sem qualquer compromisso. Que entediante roteiro lhe prometiam seus
companheiros. Nada mudaria em sua rotina diária. Apenas churrascadas na
periferia, sua tarimbada pose de musa populista, alguns discursinhos lacrimosos
já enjoativos pelo excesso de uso, muitos sorrisos falsos e mais, muitas mais,
das suas populares promessas vazias. Bastava a Poliana, sem adversários com
cacife para lhe fazer frente, repetir as ilusões simplórias de sua última
edição. Poderia repetir o mesmo jingle, o mesmo slogan, a mesma cara e o mesmo
sonho. O povo se emocionaria com o mesmo
discurso, como se fosse a primeira vez a escutá-lo. Poliana anunciaria, com o
entusiasmo que lhe caracterizava, que acabaria - agora SIM! - com a humilhante
fila do desrespeito. Trocaria - desta vez SIM! – o agendamento por respeito.
Faria SIM! – sem qualquer sombra de dúvidas, desse reino uma ilha de segurança.
Todos os larápios seriam extintos. Não fossem esses, é claro, da boa e velha
corte de seguidores da rainha. Afinal, companheiro é sempre companheiro, e uma
mão suja sempre suja a outra. Eis o código de conduta de seu nobre e íntegro
clã. Esse seria o único tema a trazer, quem sabe, algum desagrado a sua alteza.
Nada com que Poliana já não estivesse habituada. Se a pueril Oposição
acreditava que causaria desconforto maior a rainha com um tema tão batido e
obsoleto, teria mais uma surpresa ao final dessa história. Seu povo, sempre tão
ingênuo e servil, já se acostumara com a falta de brios e decência de seus
líderes. Honestidade há muito deixara de ser a bola da vez nesse reino. Só
Oposição parecia não ter ainda percebido. Pobre Oposição. Tão desarranjada se
encontrava, que até a Poliana desanimava. Poliana já não tinha o mesmo ímpeto
de outrora. Que enfadonho e cansativo seria ter de ouvir todo aquele papo de
moral e ética novamente. E pensar que sua majestade acreditara que esse tema
embolorado tinha sido extinto até nos bancos escolares. Sorte sua, e de sua
corte, que poucos eram aqueles que ainda acreditavam nessas falácias. Povo
Honesto era em sua essência sonhador.
Preferia uma ilusão bem montada a uma realidade sem glamour. Poliana e
sua corte há tempos desvendaram essa verdade e com muito marketing e pirotecnia
sufocariam novamente qualquer resquício de moral que ousasse interpor-se em seu
colorido e bem montado reinado de sonhos e fantasias. Poliana desanimada olhava
para os poucos itens de sua mala. Vontade Política, sua mágica varinha de condão,
já não cabia mais na bagagem. Sua assessoria de marketing e ilusão de ótica
convencera a rainha de que essa também estava ultrapassada. A rainha trocara
Vontade Política pelo manto mágico do Alinhamento Político. Essa alegoria era muito
mais útil nesses novos tempos. “Em baixo do Alinhamento Político, é possível
esconder muito mais propinas e escândalos.”- pensa Poliana, deixando a boa e
velha Vontade Política de lado.
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