De pé na
lateral do campo o time discutia de forma eloqüente. Uns gesticulavam, outros
gritavam, tantos emudeciam e todos discordavam. Para o velho que observava a
cena da arquibancada parecia que a tática de Oposição, ano a ano, continuava a
mesma. Entrar em campo com um único objetivo: perder.
O velho,
como sempre saudosista e nostálgico, suspira e abana a cabeça, lastimoso. Ah,
que saudade sentia da Oposição de outros tempos. Tempos duros. Foram anos de
chumbo aqueles. Quando se tinha tanto o que falar e era preciso calar. Hoje, se
podia falar tudo e, no entanto, parecia que ninguém tinha nada a dizer. Como
era triste esse silêncio de idéias e intenções. Esse deserto de convicções e
certezas. Até a corrupção, condenável marca de sua adorada pátria, carecia de certo
requinte nesses tempos modernos. Mesmo para roubar era necessário algum
critério ético, acreditava esse velho tolo. Um pouco de pudor e limites. Mas os
valores que importavam não eram mais os morais nesse reino. Apenas o dinheiro e
o poder, e o poder do dinheiro, importavam à Oposição e Situação. Esses dois sedutores
elementos, tornaram Oposição e Situação tão próximos nos gestos, discursos e
posições que era quase impossível distingui-las hoje em dia. Até os rostos eram
os mesmos. Todos juntos nos mesmos palanques.
Algumas
vozes mais alteradas, vindas do gramado a sua frente, chamam a atenção do
velho. Correndo novamente os olhos, já um tanto turvos pela idade e as decepções,
para o grupo reunido a pouca distância, observa a discussão que se acalorava.
Chegava a ser hilário ver Oposição, até ontem Situação, tão desarranjada e
atordoada. Longe do trono mostravam o que sempre foram: patéticos seres se
digladiando por um naco de poder. Fato novo! - gritava alguém. O velho ouvira isso várias vezes nessa tarde.
Para ele, na conjectura atual, fato novo era lutar pelo certo e pelo justo.
Todo o resto era moeda corrente.
Enquanto
enrolava um de seus palheiros, analisa com o cuidado próprio dos bem vividos, a
figura de Zangão. Este se dizia velho para disputar um novo jogo em um novo
tempo. Para esse ancião, que gozava a nona década de vida, ele aparentava ser jovem
ainda. A idade alterara sua percepção do tempo e de possibilidades, pensava. Se
Zangão estava demasiado velho para o jogo, não se permitia ser velho demais
para o comando. Mesmo sem querer entrar em campo, não demonstrava intenção de
largar as rédeas do time. Mesmo tendo trocado as chuteiras por pantufas não
perdera a pose de treinador. Tentava ditar, como de hábito, as regras e
estratégias para um grupo que não tinha a ambição de ganhar. Aliás, mesmo para
um mero observador desatento, nesse time parecia haver mais comandantes do que
comandados. Mais caciques do que índios. Muito mais técnicos do que jogadores. Como
seria entediante assistir a um jogo assim. Talvez devesse ouvir os resmungos e
conselhos de sua velha e abandonar de vez esses treinos sem fundamento ou
motivação. Com o inverno se aproximando, frio, úmido e cinzento, melhor ficar
em casa, aquecendo as juntas em volta do borraio, do que assistir a um jogo
onde o resultado já está marcado. Não havia chances de vitória. Não para o povo
ao menos. Todos estavam fadados ao fracasso. O dinheiro e o poder aniquilariam,
como sempre, qualquer boa intenção ou decência que ousasse se infiltrar nesse
jogo. Isso era uma coisa que infelizmente não evoluíra com os anos, pensa o
velho, enquanto se dirigia cabisbaixo para casa.
Fantastico, como sempre vc consegue visualizar a realidade c uma alma tao sensivel q me emociono a cada acontecimento do mundo virtual de Poliana. Lutar pelo certo e justo como vc bem colocou nesse post e o q falta p sentirmos entusiasmo e continuarmos a pensar q ainda vale a pena acreditar q ha possibilidade de mudança... Gde bj e fica c Deus!
ResponderExcluirHOJE A "CÔSA" ESTÁ ASSIM: A "SITUÇÃO" (OS QUE GANHAM MESALÃO), "OPOSIÇÃO" (OS QUE NÃO GANHAM MENSALÃO)E POR AÍ VAI !!!
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