- Tá tudo
bem Poliana. Já pode sair do armário. A barra tá limpa agora.
- Não saio,
não saio, não saio! Não confio em vocês, seus molóides. – os gritos chegam
abafados ao grupo de bobos e pajens que se amontoava em frente a porta fechada.
- Já
terminou tudo Poliana. Não tem mais perigo nenhum. Pode sair daí de dentro.
- Não!
Ainda é cedo. Nem escureceu ainda. Daqui não saio, daqui ninguém me tira!
- Sai logo
desse armário rainha! – suplica um dos pajens cansado pelas horas de espera.
- Já disse
que não! – grita ainda mais alto a rainha.
- Chega de
frescura! Sai do armário Poliana! – exaspera-se Líquen.
- Naaaão saaaio!
– esganiça-se a rainha, mostrando destempero.
- Não
adianta companheirada – desanima-se Líquen, dirigindo-se ao resignado grupo –
Temos de mudar de tática. A rainha não quer mesmo sair do armário.
- Mas ela
precisa sair. Tenho dúzias de fotos da alteza para tirar e editar. – choraminga
Faisão, assessor de marketing e ilusionismo da corte.
- Pelo amor
de Deus, Líquen! Ela nem colocou as mãos no Troféu Popularidade ainda e está
mais mimadinha e birrenta do que já era.
- É isso
mesmo. Nem os bombons de amarula são suficientes para Poliana, agora. Cada dia
ela inventa uma moda diferente.
- Qualquer
coisa é motivo de piti. Agora inventou essa de se esconder no armário. Que
coisa mais ridícula! – indigna-se um representante da Irmandade do Fogo.
- Vocês já
pensaram se Oposição chega a saber disso. Vai ser mais motivo pra deboche e
esculacho.
- Eu sei -
continua Líquen - Mas não podemos fazer mais nada. Agora é tarde para aderimos
a outra rainha. Temos que nos contentar com a que conseguimos. Dos males, o
menos pior para nos manter no poder. Como dizia nosso grande amigo e professor,
Paulo Salim: para ser nossa rainha não precisa nem parecer honesta, basta ser
popular e populista. Esse é o novo lema do nosso clã, agora.
- Não sei
se concordo com essa nova ideologia. É tudo aquilo que nós sempre criticamos. –
declara o camarada Boina Verde, pensativo.
- Se você
não acha certo, não tem problema Boina Verde. Tem dezenas de companheiros
doidinhos pra ficar com seu carguinho. É só largar o osso!
- Também
não é pra tanto. Eu preciso apenas me modernizar um pouco. Sempre achei o Paulo
Salim um homem muito coerente em suas atitudes.
- Vamos
voltar ao nosso problema mais urgente. Como fazer Poliana sair do armário?
- Vocês já
tentaram oferecer afagos e massagens no ego? – pergunta um membro recém aderido
ao cordão de puxa-sacos reais.
- Massagear
o ego sensível da rainha tem sido nossa mais árdua tarefa nesses últimos anos.
Além de mentir pra ela, é claro. – esclarece um dos bobos.
- Nem me
fale. Nós contamos cada historinha fantasiosa que dava pra escrever um livro. Ainda
bem que a rainha está tão centrada no seu umbigo que nem se preocupa em olhar
em volta.
Do interior
do armário vem um esganiçado grito, sobressaltando a todos:
- Calem a
boca seus palermas! Não vou conseguir escutar o sinal com essa algazarra de
vocês aí fora!
-Sinal? Que
sinal alteza? – questiona um bobo real, ainda mais abobalhado que de costume.
- Eu estou
esperando o sinal que vem do céu seus inúteis! – berra a histérica rainha.
- Era só o
que faltava! Agora ela deve achar que é alguma enviada de Deus! Enlouqueceu de
vez, a rainha. – surpreende-se um dos aliados.
Enquanto o
grupo se recuperava do choque de mais uma revelação sem nexo da rainha, uma das
damas de companhia de sua alteza entra correndo no recinto e esbaforida se
dirige a porta ainda fechada do armário: - Eu ouvi rainha! Foram onze!
- Onze? Tem
certeza?
- Absoluta
majestade. Dez foguetes e um rojão.
- Teve
fogos de artifício?
-
Nenhunzinho.
- Ótimo!
Então está confirmado. - comemora Poliana abrindo a porta do armário. – Neste
armário, quero dizer, nesse reino não tem espaço pra mais ninguém – declara convicta
a rainha, com os olhinhos de biscuit reluzentes de contentamento. – Agora é a
vez de Oposição mofar de tanto esperar uma oportunidade de sentar nesse trono
novamente. Acabamos com o coronelismo. Vamos aperfeiçoar ainda mais nosso novo
regime: o oportunismo! – anuncia Poliana sob aplausos efusivos de sua cada vez
mais vasta corte, posando radiante para as fotos e se equilibrando com muita
classe nos finíssimos saltos agulha.