- Deus do
Céu! O que é essa tralheira toda esparramada pela sala! Que confusão. Não dá
nem pra andar sem tropeçar nessas coisas! – reclama um dos pajens reais
desviando dos entulhos no chão.
- Coisa de
Poliana. Ela tá há horas escolhendo os modelitos. Mexe e remexe naqueles
armários, tirando centenas de sapatos.
- Mas pra
que ela quer todos esses sapatos? Vai doar pra campanha do agasalho?
- Que doar
que nada. Ela esta escolhendo os melhores modelos para disputar o troféu
popularidade deste ano.
- Ela
pretende entrar na disputa pelo troféu com esses saltos tão altos. Não seria
mais adequado algo mais confortável e prático?
- Agora não
há mais necessidade de maiores cuidados e frescuras. O velho já decidiu: vai
ficar com as pantufas.
- Mas será
que já é definitivo? Olha lá, não podemos ser afoitos.
- Acho que
desta vez é sério mesmo. Ele não vem. Dá até pra ver as caras de desolação das
viúvas do Zangão. Tadinhas, vão ter de ficar tricotando por mais uns anos.
- É mesmo,
os jogos de bingo da velharada vão bombar por mais um tempão.
- Não sei
não. Já vimos esse filme outras vezes. Ele diz que não vai e no final era só
enrolação pra conseguir patrocínio.
- Dessa vez
é sério. O velho ficou com medo da popularidade de nossa rainha. Achou melhor
ficar em casa olhando velhas fotos e lembrando-se dos seus tempos.
- E quem
vai vir então?
- Se lá.
Agora, tá todo mundo reunido escolhendo um personagem para perder pra Poliana.
- E já tem
algum nome circulando no meio?
- Eles vão
lançar qualquer um, só pra figuração. O Macaco Tião ou o Louro José, talvez.
Nossa rainha está eufórica. Nem ela acreditava que ia ser assim tão fácil.
- É, mas
nós temos que nos cuidar. Afinal, mesmo sem adversário a Poliana sozinha já dá
o que falar.
- Eu
concordo. Não acho boa idéia Poliana escolher saltos tão altos. Muita coisa
pode acontecer na viagem a Horário Eleitoral.
- Vocês são
paranóicos! Horário Eleitoral é nossa praia. Lá ninguém nos assusta. Ninguém
faz photoshop como nós.
- É isso
aí! E nossos jingles fazem intelectual chorar como a falácia da revolução
cubana. E os súditos adoram ver a rainha beijando criança ranheta e piolhenta.
Nós arrasamos nessa modalidade.
- Não é
essa minha preocupação. Eu me preocupo com nossas cabeças e nossos carguinhos.
O que me deixa arrepiado é o que a rainha vai descobrir em Horário Eleitoral!
- O que
você quer dizer?
- Vocês já
pararam para pensar na quantidade de mentiras que nós temos dito pra rainha
durante todos esses anos? Já contaram quanta história da Carochinha nós
inventamos para fazer a rainha dormir e acreditar que seu reino é uma colorida
Ilha de Fantasia e realizações? Será que vocês não percebem que mais dia menos
dia todas essas mentiras vão cair como uma avalanche nas nossas cabeças.
- É mesmo!
Tinha esquecido desses detalhes. Pior ainda! Sem um adversário decente para
enfrentar Poliana, nossas trapalhadas vão ficar ainda mais expostas! Não vamos
ter ninguém em quem jogar a culpa dessa vez.
- Meu Deus!
Seremos nós, nossas promessas vazias e mais ninguém. Como é que vamos resolver
isso companheirada! – grita um dos bobos quase em histeria.
- Se lá,
sei lá. – choraminga um sindicalista correndo estabanado pela sala. – Nunca nos
deparamos com uma coisa assim, antes. As filas na saúde, os curandeiros caindo
de pára-quedas, os remédios jorrando em fontes, todas aquelas obras
fantásticas... meu Deus! Quando ela descobrir!
- Não quero
nem pensar numa desgraça dessas! Ela vai nos matar! Temos de pensar em algo. E
rápido!
- Já sei! Vamos
logo seus molóides. Vamos atrás de Zangão. Se nós fizermos uma vaquinha e implorarmos
um pouco pode ser que ele mude de idéia e salve nossos pescoços.
- Bem
pensado. Temos que negociar. Vamos oferecer umas ceroulas novas, e essas
pantufas do Pateta. E tem aquela caixa preta abarrotada de cartazz e dossiês.
Poliana nem vai desconfiar. Vamos logo, sem barulho. Nossos carguinhos dependem
dessa negociação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.