sábado, 19 de março de 2011

Fantástico! Tsunami chega ao reino de Poliana





Sentada confortavelmente em suas almofadas, de pijamas e pantufas, Poliana aguardava mais um episódio de seu reality show favorito. Não perdia uma só exibição, era fascinada por todo aquele jogo de intrigas e fofocas. Poliana adorava uma fofoca. Pois eis que estava assim relaxada, quando seu mundo foi atingido por uma fantástica onda de denúncias e acusações. Um verdadeiro Tsunami midiático! Um mar de lama que invadiu o reino, varrendo o pouco de credibilidade que Poliana ainda mantinha e emporcalhando mais o seu já putrefato relacionamento com o decoro e a moralidade. Por intermináveis minutos Poliana ficara ali, em frente a TV, em choque, como esperando o momento em que alguém anunciasse que tudo não passava de uma grande pegadinha. O trânsito! Ha, o trânsito. Quanto desgosto e transtorno já causara à Poliana! E quanta satisfação e deleite vinha proporcionando a Oposição e Imprensa Livre! Ao diabo com Imprensa Livre! Mal ditos sejam os companheiros de clã que – em tempos bem remotos é claro – tanto estardalhaço fizeram para libertar essa fulana. Agora, a ingrata, armava arapucas para perseguir pobres almas como Poliana. Não tinha, essa sórdida e traiçoeira figura, nem um pouco de senso de ética e gratidão por aqueles que tanto fizeram em nome da democracia e da liberdade de expressão. Esse mundo estava mesmo de cabeça pra baixo, pensa a desiludida e atraiçoada Poliana.
Pois foi justo o trânsito que obrigou Poliana a sair de seu estado de torpor. Em poucos minutos o tráfego de bobos no seu castelo era imenso. Seus bobos, pareciam ainda mais bobos, andavam aturdidos de um lado pra outro, colidindo uns com os outros como bêbados. A sinfonia de telefones enlouquecia os já naturalmente aparvalhados pajens de Poliana. Se já não conseguiam parecer convincentes sobre assuntos corriqueiros, como conseguiriam defender o indefensável sem confessar o inconfessável. Poliana fora pega tão desprevenida que esquecera até mesmo de lançar mão dos infalíveis jargões de seu clã. Não usara os velhos sofismas como perseguição midiática, factóides, manipulação de adversários ou interesses de representantes das elites que se sentiram agredidos por seu reinado democrático, participativo e inclusivo, blá, blá,blá... Ainda faltava a Poliana o traquejo para a enrolação de improviso. Precisava participar mais de assembléias, sindicatos e movimentos sociais, assim adquiriria o imprescindível cacoete para momentos de crise moral, modernamente chamada desvio ético.
Em meio ao nervosismo e preocupação, acende o sinal amarelo para Poliana. Como sempre ocorre, depois da enxurrada... vem a corredeira. E que corredeira. Pois corriam todos: Poliana, seus amigos, companheiros de clã, bobos e pajens. Se espremiam, pálidos e sudoréticos, nas congestionadas filas em frente aos banheiros do castelo. Não conseguiam, os coitados, diminuir a velocidade assombrosa de seus intestinos. O trânsito intestinal de Poliana e sua corte exigia medidas urgentes. Agora, ficara nítido, até mesmo para Poliana o desarranjo em que se encontravam. Que situação ridícula e mal cheirosa. Nem lombadas, nem furões impediam que vez por outra uma ou outra massa mais apressada escapasse impunemente gerando desconforto e constrangimento. O cheiro no castelo, que nunca fora muito agradável, em pouco tempo já era insuportável. Alguns bobos, com uma ligeireza surpreendente em outras circunstâncias, aliviavam-se atrás das moitas nos jardins do palácio. Toda solidez da imagem que Poliana lutara tão arduamente para construir parecia agora se esvair literalmente perna abaixo. Se o Tsunami midiático durou poucos minutos seus efeitos sobre a saúde física de Poliana e sua corte se prolongou a noite toda. Muitas idas e vindas ao banheiro depois, Poliana, exaurida e desidratada reflete que não havia arranjo e locupletação que compensasse o desarranjo por que passara.
Algo de bom devia restar de tudo isso. Poliana, que sempre gostara de uma boa mídia, dessa vez conseguira mesmo brilhar. Seu reino nunca fora tão falado, sua fama agora se espraiara além fronteiras. De fato seu reino transformara-se na Bola da Vez. Esse título ninguém mais lhe tirava, pensava a incontinente e emporcalhada Poliana.

5 comentários:

  1. O pior está por vir, fantástico o show da vida.

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  2. Posso até imaginar hoje a noite, a turma toda reuniada, de mão dadas, roendo as unhas de nervosismo, esperando mais uma bomba do Fantástico. Devem estar se cagando de novo, há,há..

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  3. Espero que tuda esta "porcaria", não acabe em pizza. Bendito Grizzotti!!!!!!

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  4. Tanto talento jornalístico merecia uma coluna no jornal. Ou o descompromisso do anonimato é mais confortável? E será que cheira melhor?

    Diego

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  5. Olá Diego
    Que bom encontrar um sinsero admirador. Quanto a coluna no jornal, não há, na maioria das vezes, interesse dos jornais locais em publicar meus textos. Já tive inclusive que pagar para publicarem os capítulos iniciais da Fábula de Poliana, que originou o blog. Se você tiver alguma influência nesse meio e quiser interceder eu não me oponho. Você, com sua perspicácia, deve ter percebido que meu "anonimato" é mais confortável a outros do que a mim.
    Obrigada por participar do blog. Volte sempre.
    Kátia Filgueras

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