domingo, 6 de março de 2011

As aventuras carnavalescas de Poliana



Finalmente é Carnaval! Poliana adorava o Carnaval. Toda aquela gente alegre e sorridente. Tanta cor, brilho e alegorias. Os miseráveis esquecem suas mazelas e desfilam garbosos pelas ruas. Os famintos saciam-se de fantasias e ilusões. Os descontentes e insatisfeitos, satisfazem-se com brilho e purpurina. Tudo igualzinho a Horário Eleitoral! Que maravilhosa festa popular!
Como não poderia deixar de ser, Poliana - a benevolente - num de seus inúmeros e desinteressados gestos de bondade, resolveu dar folga a todos os seus servos nesses festivos dias. Mal noticiara sua decisão e seus numerosos bobos e pajens desapareceram como mágica. Poucas coisas faziam com que seus bobos se movimentassem tão rápida e eficientemente. Além de uma bela e robusta teta, eles adoravam mesmo era uma boa folga. Mesmo aqueles que pouco ou quase nada faziam, desempenhavam tudo isso muito melhor em casa. A questão era que, em poucos minutos, Poliana já se via sozinha em seu castelo. Sem supervisão, Poliana podia, após tantos meses, deixar sua redoma de vidro fumê e circular livremente pelo reino. Finalmente um pouco de liberdade para a dinâmica rainha. E Poliana não se fez de rogada, queria aproveitar cada minuto de independência e autonomia. Deixando para traz os portões do castelo respirou profundamente o bem vindo ar da liberdade. “Nossa, que cheiro horrível!” - exclama a nauseada Poliana. Alguém deve ter usado os muros do palácio como mictório ou havia algo, além de Oposição, a se decompor nas redondezas. Olhando para os lados, Poliana percebe muito lixo nas esquinas e ruas. “O que faria tanto lixo assim em seu reino?” Após refletir por alguns minutos lembra-se de há poucos dias, ter visto de sua janela pessoas empunhando vassouras e latões de lixo. É claro, é carnaval! Tudo isso deve fazer parte dos adereços do famoso Bloco do Sujo, que modernamente deve ser chamado de Bloco do Lixo. Como era original e criativo seu povo! Sempre pronto a inovar, extraindo prazer e ânimo da sujeira e dos dejetos. Um maravilhoso povo, que além de se saciar com sobras era capaz de vibrar e comemorar a cada ano o carnaval.
Erguendo os olhos, Poliana estranha a aparência decadente de seu castelo. “Deve ser isso o que se chama de tombamento de patrimônio histórico. Espero que os alicerces estejam em melhor estado que a fachada.” E a fonte d’água em frente ao palácio? Devia estar sofrendo de algum mal súbito. Jorrava água de forma desordenada, em golfadas e gorgolejos, sem nenhuma beleza ou harmonia. Que diferença das belas fotos que Poliana se habituara a ver penduradas em seu salão imperial. Provavelmente esse espetáculo grotesco de turbulência das águas deveria fazer parte de algum projeto de combate a mosquitos, certamente alguma brilhante idéia de seus adoráveis bobos.
Após alguns minutos percorrendo com seu veículo esporte as avenidas do reino, Poliana já sentia as costas doerem com tantos solavancos. Como haviam se proliferado os buracos no asfalto. Seus bobos da corte já haviam lhe esclarecido que os buracos eram uma medida desconfortável, mas necessária em prol do ambientalismo. Serviam para permitir a penetração da água no solo e a preservação do lençol freático. Tudo muito ecológico e eco-sustentável, nada além disso. Encantada com todas os magníficos cartazzes e banners que via distribuídos pelas ruas, Poliana se distrai e quase perde o controle após um forte tranco. Com agilidade desvia de uma enorme cratera a sua frente. “Isso deve ser um poço artesiano.” Seus bobos estavam mesmo preocupados com o abastecimento de água e engajados com preservação do meio ambiente, pensa Poliana, orgulhosa de seus pupilos. Achando que já vira o suficiente, resolve voltar ao palácio. Mas, após dezenas de tentativas, não conseguia encontrar uma forma de chegar ao castelo. Havia tal emaranhado de retornos, desvios e atalhos, que Poliana se perdera. Andava em círculos, desorientada. Logo ela, tão centrada, perdera o rumo e a direção. Que coisa estranha! Devia ser excesso de folia. O carnaval tem dessas coisas.
Ao fim do dia, exausta com sua aventura, Poliana toma mais uma de suas importantes decisões. Nunca mais sairia de sua agradável redoma, sem levar uma boa bussola e seus confortáveis e convenientes óculos cor de rosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.