sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poliana no Reino das Maravilhas


Poliana assumira nova personalidade. Ano novo, cara nova. Agora ela se mostraria ao público uma rainha mais decidida e exigente. Estava farta de ouvir de Imprensa Livre comentários maldosos sobre sua postura como soberana. Iria mostrar a todos como era enérgica e firme em suas convicções. Faria seus bobos da corte correrem atrás do prejuízo de tantos meses sem conseguir executar sequer uma ação que pudesse aparecer em seus belos e numerosos outdoors. Ninguém mais no reino, nem mesmo Poliana, agüentava ouvir novamente o mesmo blá, blá, blá sobre a importância histórica e a inigualável conquista da Escola de ensino Superior Poliana ou da construção magnífica e dispendiosa da avenida ligando Nada a Lugar Nenhum. Até o festival anual de ilusionismo e pirotecnia da Orquestra Partidária (OP), já estava se tornando cansativo e repetitivo. Decorridas tantas luas, já era tempo suficiente para que algo mais saísse do chão em seu reino. É bem verdade que houve em seu reinado a louvável construção do importante mictório coletivo, mas Poliana preferia não se gabar muito do feito para não enfurecer a já desarranjada Oposição. Não queria provocar inveja. Poliana sempre fora muito humilde. Ocorre que seus súditos já estavam demonstrando certa impaciência com a morosidade na transformação de promessas em realidade. E o povo ingrato adorava reclamar. Estava sempre inventando problemas que Poliana e seus asseclas nem percebiam. Era tudo questão de ponto de vista. Dentro de seu castelo, cercada de sonhos e alegorias, Poliana não conseguia enxergar o motivo de tantas queixas e descontentamentos. A miopia de seus bobos também não lhe ajudava em nada. Mas, enquanto ainda estivesse viva e saudável a maldita Democracia, Poliana precisaria agüentar calada todas essas lamúrias sem fundamento. Longe de Horário Eleitoral a vida era realmente muito mais árida e difícil, Poliana a duras penas aprendia.
Para calar todas as línguas maledicentes Poliana fora clara e rígida com seus bobos: queria ver seu reino colorido e os súditos satisfeitos como em Horário Eleitoral! Não aceitaria mais ouvir desculpas ou reclamações! Todos eles, os bobos, precisariam apresentar a sua rainha um mundo de gloriosos feitos. Seus bobos, assustados, corriam afobados para satisfazer as exigências da temível Poliana. Seriam dias de muito trabalho, pois todos precisavam mostrar serem merecedores de seus tronos. Para cumprir suas metas encomendaram uma maior e mais blindada redoma de vidro para embalar Poliana. Mais alguns pajens seriam contratados para não permitir que sua majestade fosse incomodada por pessoas com opinião própria ou senso crítico. Enormes barris do mais puro perfume foram espalhados pelo palácio para camuflar o cheiro do lixo que se acumulava fora dos muros do castelo. Cada bobo elaborou, com a indispensável ajuda do photoshop, belos álbuns mostrando um novo reino. Um reino harmonioso onde ilusões tornavam-se obras concretas, sem qualquer esforço e em um piscar de olhos. Repleto de pessoas sorridentes e felizes. Onde não havia críticas ou críticos e recursos caiam do céu como recompensas divinas a todas as boas intenções de Poliana. Um deslumbrante mundo onde flores brotavam dos buracos no asfalto e sólidas construções emergiam em meio ao lixo. Onde as até pouco tempo desrespeitosas e intermináveis filas de doentes eram milagrosamente substituídas por uma multidão de curandeiros ávidos por trocar seus serviços por pouco pão e muito circo. Poliana suspirava deslumbrada. Agora tinha certeza de que escreveria um importante capítulo de sua história: Poliana no Reino das Maravilhas.

2 comentários:

  1. Depois que Erechim elegeu um prefeito que assassinou 17 crianças indo para a escola, tudo perde o sentido.

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  2. Depois que Erechim elegeu petralhas então, não sobra nada mesmo...

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