terça-feira, 2 de novembro de 2010

As peripécias futebolísticas de Poliana


Poliana sentia-se exausta! Que surpreendente jogo presenciara. Poliana adorava futebol. Era famosa por seus dribles e frases de efeito: “Pra mim, não tem jogo ruim” ou “ eu não jogo pra torcida, meu reino é a bola da vez.” Mas nesse último confronto, quase jogara a toalha e pendurara a chuteira.
Acompanhada de seus bobos e sua imensa corte, assistira encantada e perplexa ao bom e velho clássico. O estádio trepidava com o grito efusivo das torcidas. Cercada de bandeiras vermelhas Poliana, a saudosista, recordava seus velhos tempos de militante, quando buscava um ideal de justiça e liberdade. Como eram românticos e cândidos seus interesses de outrora. Suas lembranças remotas confundiam Poliana como ópio e faziam com que ela tivesse dificuldades em se concentrar na jogatina atual. Aos carrinhos do adversário Poliana gritava: é falta! Seus companheiros bradavam: Falta não, factóide! Poliana precisava mesmo se inteirar das novas regras vigentes. Em dado momento do jogo, Poliana identifica uma figura no telão. Empolgada em suas recordações dos tempos de Cara Pintada levanta e grita: Fora Collor!!! Um de seus bobos, sutil e constrangidamente lhe alerta: “Esse, agora, é dos nossos”. Poliana volta a sentar desconsertada. “Deveriam identificar melhor os times. Confundi os calções e as meias.” Ao seu lado, a torcida organizada urrava: Fora FHC! Viva o FMI! “Mas F.H.C nem está no jogo”, pensa Poliana, preferindo se manter calada desta vez. Seus velhos amigos da CUT (Companheiros Unidos no Trambique) gritavam eufóricos: Hei, hei, hei, Sarney é nosso rei! Vai que é tua Calheiros! Acabem com eles companheiros! A turma do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago) ameaça em cada boa oportunidade adversária: Vamo invadi! Vamo invadi!
Num dos momentos mais tensos da partida, a zaga dos petralhas se descuida e o atacante adversário corre livre para a grande área. Era gol certo. Nesse instante, do meio da torcida surge o Ilusionista, fundador do grande time. Com excepcional desenvoltura, pula o alambrado, adentra ao campo e derruba o adversário com um carrinho desleal. A companheirada vai ao delírio. “Ele é o cara, ele é o cara!” - gritam efusivamente em uníssono. O juiz prontamente ergue o cartão amarelo. Poliana, desnorteada, questiona: “mas o lugar do Ilusionista não seria a platéia?” “Cala a boca Poliana! Não vê que o juiz é dos nossos! – reclama um de seus bobos mais chegados. “Mesmo assim, não seria lance pra expulsão? – insiste Poliana. “Chega Poliana! Vá comprar pipocas!”, esbraveja um companheiro do SindiPelego, já um pouco exaltado. “As regras só valem se forem a nosso favor”, acrescenta, mostrando orgulhoso sua camiseta com os dizeres “ACM é nosso guia”. Poliana retoma seu lugar, contrariada. Observa desgostosa, que o Alquimista e algum de seus bobos empunhavam bandeiras do time adversário. Prefere fazer que não viu, é melhor não se meter com o Alquimista. Melhor mesmo era continuar calada até o termino da partida.
Ao final, a vitória. Implacável, inigualável! Vence o time da mudança, do novo, do inovador. O time de Renan, Ribamar,Fernando Mello, Zé Dirceu, Dilmão, Michel, Jader, Paulo Salim.... Poliana achava as caras um pouco batidas e conhecidas. Alguns já estavam em campo desde a copa de setenta. Mas Poliana já falara demais por esses dias. Agora era hora de ir para galera! Olé, olé, olé, olá....

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