terça-feira, 21 de setembro de 2010

Poliana a Injustiçada


Poliana estava roxa de inveja e raiva. Ouvira por Imprensa Livre boatos maldosos de vultuosas somas de dinheiro pagos em propinas a alguns membros de seu clã. Que injustiça! Poliana, a dedicada, não conseguira ainda, tão volumosa quantia. Nunca antes na história desse país o mundo fora tão cruel com Poliana. E ainda havia gente espalhando pelo reino que Poliana era uma menina de sorte. Que absurdo! Quanta insolência!
Poliana trabalhara muito para conquistar tudo que hoje tinha. Dera muito de seu suor em intermináveis comícios e passeatas. Fora fiel e brava batalhadora pelos interesses de seu clã. Defendera o paquidérmico projeto de apoio a companheirada (PAC). Sempre levantara a idéia de que a propina enriquece ao clã e expandia cargos, poder e votos. Com sua convicção nesse ideal de conduta multiplicara os amigos no poder. Dera cargos a medíocres, mas úteis aliados gerando centenas de empregos e muita, muita renda. Firmara alianças indecorosas. Vendera por mixaria o pouco de decência que ainda tinha. Conseguira, com um breve aceno de Vontade Política, sua varinha de condão, materializar lado a lado a Escola de Ensino Superior Poliana e o maior estacionamento público que seu reino já vira. Transformara um até então desconhecido lugarejo, na Capital Nacional dos Cartazzes. Colocara em prática o mais inusitado projeto de revitalização dos canteiros centrais, substituindo árvores por outdoors e banners, tudo muito ecológico e lucrativo. Botara em xeque as mais conhecidas e seculares leis da física ao conseguir que duas paralelas se encontrassem em um emaranhado de intersecções. Construíra moradias - pelo menos a sua estava ficando uma beleza! Fora a Capital Nacional e trouxera recursos, que se foram insuficientes era porque sempre preferira cuecas justinhas, eram mais confortáveis. Mas, mesmo demonstrando tamanho engajamento, não conseguira tanto dinheiro fácil como o destinado aos assessores da escolhida de seu guia, o Ilusionista. No ritmo que as coisas andavam por aqui, para conseguir tal montante teria de vender a preço de ouro toda a água do reino! Mas até nisso andava sem sorte, pois antigos companheiros de batalha estavam prejudicando a negociata. Ainda haviam pessoas que não entendiam a diferença entre querer o poder e estar no poder. O mundo pós-poder era muito diferente. Era preciso agradar aos seus e esquecer o resto. O povo que se alimentasse de migalhas e cartazzes. Ideais de justiça, liberdade e ética eram velhos e bolorentos discursos de Horário Eleitoral, só os tolos ainda acreditavam nessas ladainhas. E eram esses mesmos tolos que continuavam a atrapalhar Poliana. Não lhe davam sossego e estavam tirando-lhe do sério. Poliana precisava dar logo vazão a toda sua ira, por isso mandara construir mais alguns banheiros públicos. Tomara que terminem logo essa sua nova obra (talvez a única que conseguiria concluir durante todo seu reinado), pois não sabia quanto tempo ainda poderia se conter, pensa a flatulenta Poliana. Enquanto aguarda é melhor mesmo deixar as janelas abertas.

Um comentário:

  1. Amiga.
    Teus comentários cada vez estão mais perto da realidade nesta cidade de baners feitos em uma unica empresa que deve estar recebendo as benesses do passo municipal

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