quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012


Atendendo a pedidos e provocações, Poliana retorna mais cedo de suas férias. Havia esquecido que o carnaval costuma acontecer antes para a corte de nossa rainha. Essa turma adora mesmo uma farrinha!

Poliana estava desolada. Tinha a impressão de que seu castelo de cartass ruía. Quem diria que justo o mais grandioso e notável feito de seu reinado, a publicidade, iria acabar dando-lhe uma rasteira dessas. Tinha que admitir que falhara por excesso de confiança e por sua ânsia em causar boa impressão. As falsas impressões de Poliana agora cobravam o seu preço. E que preço! Primeiro o doloroso puxão de orelhas de Justiça. Uma vexatória reprimenda pública, para lembrar-lhe que muitas pedras ainda poderiam rolar sobre seu insípido reinado. Como diria a rainha mãe, a Escolhida: “quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro”. Pois não é que a bizarra profecia se confirmou por aqui. O transparente telhado da rainha desabara sobre sua cabeça, expondo-a ao ridículo e colocando em risco sua adorada coroa. Seus encantadores bobos, normalmente lerdos e atrasados, surpreenderam Poliana pela agilidade com que contaram vantagem daquilo que, por certo, deveriam se envergonhar. Como de praxe, construíram ilusões sobre terreno arenoso. Toda balbúrdia e alarido de seus eufóricos bobos acordou Justiça, que por essas horas deveria estar gozando suas longas e costumeiras férias. Uma coisa merecia ser dita de seus bobos: eles sabiam de fato como enfurecer a habitualmente apática Justiça. Nunca antes na história desse reino, Justiça precisara trabalhar tanto!
Não bastasse esse duro golpe na já maculada imagem da rainha, novamente a falta de cores, e de decoro, veio assombrar sua alteza. Poliana não conseguia entender o que acontecia. Era senso comum entre seus companheiros de clã que além de cega, surda e muda, Justiça seria também retardada e um tanto caduca. Acreditando nisso, a rainha e sua vasta corte exageraram no descaramento. Poliana admitia agora que talvez tenha abusado da ousadia ao expor suas ilusões e pequenos desvios éticos em tão chamativos cartazzes e outdoors. O excesso de cores e brilhos acabara vencendo a miopia crônica de Justiça e despertara a inveja belicosa de Oposição. Era preciso mudar a estratégia. Pediria a seus queridos irmãos Grafite que diminuíssem ainda mais as tintas de seus banners para não chamarem tanto a atenção de seus desafetos. Precisaria ser mais cuidadosa no futuro. A ressabiada rainha teria de se acostumar com as novas regras ditadas pela carrancuda Justiça. E que falta lhe fazia a companhia constante de seus estimados amigos, os irmãos Grafite. Pobres Grafite!O carnaval costuma ser movimentado para eles. Devem estar sentindo falta do café com bolachas do palácio - suspira Poliana condoída. Mas era preciso reagir! Erguer a cabeça!“Posso não ter no momento uma boa carta na manga, mas sempre terei cartass no bolso!” – pensa a irretocável Poliana.

Um comentário:

  1. MAS QUE SURPRESA...PENSEI QUE CONTINUARIA MAIS UM TEMPO LITIGANDO SÓZINHO.
    BEM COLOCADO, COMO SEMPRE.
    ESTOU COM MATÉRIA NOVA NO BLOG.
    BOM CARNAVAL !!!

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