sábado, 18 de junho de 2011

Santo Jorge, o showman de Poliana


É isso aí. Todo mundo no ritmo! Mão na cabeça, assim, assim. Rebolando, rebolando! Batendo palmas. Agora abaixando de vagarinho. Muito bem! No ritmo, cantando o refrão: o enrolation, o enganation, sem-vergonheition! - Atenção para a coreografia: todo mundo abanando os maços de dinheiro. Agora colocando nas cuecas... nas meias ... nos bolsos. Mexendo os quadris. Um passinho pro lado, pro outro...
-Chega! Isso tá ridículo! Vocês parecem uns patetas dançando! - Interrompe Poliana, farta com o espetáculo de seus bobos da corte. – Isso não vai dar certo Santo Jorge. Eles são uns molóides, não tem a menor ginga.
- Sem essa Poliana, a gente até que se sai bem na parte de esconder o dinheiro! – ofende-se um companheiro.
- Vocês estão há dias ensaiando e só conseguem fazer fiasco! Aliás, fiasco parece ser o carro chefe de nosso reinado. Não conseguimos ficar nem uma semana sem cometer algum. Nesse ritmo vocês vão arruinar minha imagem de soberana. – exaspera-se a rainha.
- Nós não temos culpa se não temos a formosura e o molejo de Santo Jorge, Poliana. Cada um tem suas aptidões, a nossa é enrolar não rebolar.
- É isso mesmo majestade! Nós somos bons na hora de cooptar otários e arrebanhar súditos ingênuos para nossa manada de inocentes úteis, mas essas macaquices que o Santo Jorge faz, nós não sabemos fazer. Não tem jeito.
- Por isso que Santo Jorge vale tanto! Vocês não valem nem um décimo das nossas propinas. Eu teria trocado todos vocês por ele, mas ninguém se interessou pelo negócio. – ironiza Poliana. - E depois tem outra, vocês hoje em dia já arrebanharam todos os trouxas disponíveis com aqueles discursos bolorentos de socialismo. Os tempos mudaram. Ninguém mais cai nesse conto do vigário.
- Por isso nos esforçamos tanto pra trazer pro reino a escola de Ensino Superior Poliana, será uma inesgotável fonte de crédulos inocentes para nossa doutrina de alienação e servidão inquestionável. – retruca um dos catedráticos companheiros do clã.
- Calma companheirada, sem brigas. Precisamos nos manter unidos e pensar com clareza. - discursa Líquen, apaziguador. - Nossa rainha tem razão, com sempre. Precisamos dos espetáculos de ilusionismo e pirotecnia de Santo Jorge para continuar adestrando as massas. Ele é nosso encantador de súditos. O melhor vendedor de ilusões de nosso time.
- E nós não valemos mais nada?! – indigna-se um dos velhos representantes do SindiPelego – Depois de tudo que já fizemos por nosso clã! Nós que inventamos a arte de iludir as massas com discursos poéticos! Fomos nós, que conquistamos multidões vendendo o sonho de uma sociedade justa, igualitária e inclusiva!
- Isso foi antes de nós sermos pegos incluindo os maços de dinheiro das massas nas cuecas! Antes de vendermos o sonho de justiça social pelas propinas que nos sustentam! Antes de deixarmos rabos para Oposição nos ridicularizar! – contrapõe Poliana, exasperada.
- Oposição não tem moral para nos criticar! – revolta-se Farofinha, o mais engomadinho dos companheiros presentes.
- Moral? Lá vem vocês com essa conversa de Horário Eleitoral. Isso não tem nada a ver com moral, mas com a arte de se locupletar no poder com o mínimo de discrição. Nós passamos tantos anos fazendo algazarra e estardalhaço que até na hora de cometermos nossos pequenos desvios éticos temos que chamar atenção. Damos a faca e o queijo pra Oposição se fartar!
- Oposição não tem moral para nos criticar. – repete Farofinha com sua cara de boneco de ventríloquo.
- A idéia de trocar Santo Jorge por panfletos e outdoors foi sua Poliana. Nós não temos nada com isso! – critica o companheiro dos Sem Vontade.
- Como soberana absoluta, tinha que tomar partido. Tava tudo certo, uma negociata perfeita entre companheiros de clã. Todos nós sairíamos ganhando. Nosso Santo continuaria fazendo milagres em nosso terreiro e a Vaca Pátria pagaria a conta. Não tenho culpa se a Vaca foi pro brejo e se atolou nessas bobagens que chamam de legalidade. Deve ter o dedo duro de Oposição!
- Oposição não tem moral para nos criticar! – insiste Farofinha, o boneco de cera, sem se despentear.
- O que passou, passou. Mais uns dias e todos vão esquecer esse pequeno deslize. Não temos que nos preocupar, afinal quem pagou a conta foi o contribuinte. E esse tá tão acostumado a sustentar parasitas, que nem vai se incomodar com mais um. E, no final da conta, nosso clã saiu no lucro. O único inconveniente foi o efeito rejuvenescedor desse fato sobre a apalermada Oposição. – afirma Líquen, sempre lúcido e ponderado.
- Oposição não tem moral pra...
- Cala a boca Farofinha! Você não está em plenário! Ninguém aqui agüenta essa tua cara de pau e essa conversinha de criança mimada que perdeu as bolitas pros adversários! – reclama um dos Companheiros Unidos no Trambique (CUT).
- Eu estou treinando minha capacidade de oratória e replica, ora bolas! – magoa-se Farofinha, com cara de namorado rejeitado da Barbie.
- Vamos ser práticos e objetivos - contemporiza Líquen, o maquiador oficial de Poliana – Temos que reverter a publicidade negativa. Nossa rainha tem se esforçado bastante. Tem sido incansável na maratona de sorrisos e abraços para fotos. Consegue desempenhar com maestria o papel de soberana séria e íntegra, mesmo quando lambuzada por excrementos ou atolada em denúncias de imoralidade. Temos que confiar em nossa capacidade coletiva de transformar nossas falcatruas públicas em pura intriga e difamação. E nisso, companheiros, todos somos mestres! Estamos muito a frente da amadora Oposição.
- Isso é verdade. Nós somos os caras!
- Vamos dividir o estrelato. Santo Jorge, o showman, vai continuar distraindo os tolos na periferia, com os espetáculos da Orquestra Partidária (OP). Esse povo é nosso foco. Luzes coloridas e ilusão de ótica.
- Pode deixar comigo! – exclama Santo Jorge, já iniciando uma de suas impagáveis danças, repletas de contorções e saracoteios.
- E vocês ilustres companheiros, vão se encarregar das operações estratégicas.
- Quais são essas operações?
- Ameaçar Imprensa Livre e fazer com que se cale. Repetir insistentemente, como faz Farofinha, nosso ilustre membro do parlamento, que quem inventou a corrupção foi Oposição e que nossa corrupção é para um bem maior, por isso é diferente, mais integra e menos fétida. Convencer os alienados que ainda acreditam em nossa moral de cuecas, de que tudo que Imprensa Livre divulga, não passa de um grande complô do Bicho Papão para destruir o ideal de justiça e cidadania que nós, e apenas nós, inventamos e lutamos tão arduamente para implantar nesse reino de miséria e desigualdade.
- Isso é fácil, fazemos há anos! – vangloriasse um representante dos movimentos sociais.
- E a mais importante e difícil das tarefas: conter nosso ímpeto de socializar o que é do povo. Refrear nossa ganância individual em prol do coletivo. Coletiva e discretamente conseguiremos arrecadar mais propinas para o grande clã e assim nos manteremos por mais tempo com as chaves do cofre. Com um pequeno gesto de abnegação de cada um de nós, conseguiremos anos, e anos de locupletação participativa e geração de renda.
- E isso aí galera! – agita Santo Jorge - Todo mundo junto no compasso: o enrolation, sem-vergonhetion, locupletetion, nós merecetion, o propinetion, e os contribueition só se ... Poliana acompanha descontraída sua turma na dança do descaramento, ritmo consagrado no reino dos oportunistas.

4 comentários:

  1. hahahaaha impagavel, vc ta cada vez melhor, FAROFINHA, E SANTO JORGE. Mas olhando bem o Lucas tem mesmo cara de farofinha.

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  2. Chama o Zé Castor pra "desconstruir" o governo, já que o mesmo fez isso antes mesmo da atual gestão assumir kkkkkkk

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  3. Esse governo está se deteriorando a cada dia sem precisar de ajuda pra "desconstruir". Os próprios petralhas se afundam sozinhos.

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  4. Como se precisasse de um Zé Castor ou mesmo um João Rompedor pra demolir uma administração leprosa como esta, que a casa semana perde um pedaço de moral, ética, transparência, respeito, decência, dignidade, honra, integridade e seriedade(se é que algum dia teve alguma destas qualidades)

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